23 de junho de 2011 | 00h00
Enquanto os gastos da indústria com máquinas, equipamentos e instalações - que compõem a maior fatia dos investimentos industriais - devem diminuir 7,3% neste ano em relação ao valor investido em 2010, as aplicações em inovação de processos e de produtos devem aumentar 16,6%, de acordo com pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ouviu 1.220 empresas paulistas. A pesquisa abrangeu empresas de dimensões e setores variados, razão pela qual muitas de suas conclusões podem ser estendidas para além dos limites do Estado de São Paulo.
"As empresas adotaram estratégias mais defensivas em 2011, voltando-se mais para a eficiência produtiva, em detrimento da expansão da produção", disse ao Estado o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, coordenador da pesquisa.
Às novas dificuldades enfrentadas pela indústria - competição mais acirrada com o produto importado e desaceleração da economia - somam-se as que ela vem apontando há vários anos: a alta taxa de juros, que dificulta os investimentos, e a desvalorização do dólar, que favorece a importação.
A aceleração da inflação exige a manutenção de uma política monetária rigorosa nos próximos meses, o que significa que os juros continuarão altos. O quadro internacional, marcado pelo fraco crescimento dos países industrializados, por sua vez, induz os grandes exportadores a buscar mercados nos países em desenvolvimento e os investidores a aplicar também nesses países, onde obtêm melhor remuneração para suas aplicações. Essa combinação continuará a estimular a entrada de produtos importados e de dólares no Brasil.
Nessa situação, as indústrias mais afetadas pelo aumento das importações veem na inovação o caminho para enfrentar a concorrência externa. Elas investem na procura de produtos ou modelos com os quais possam competir com os importados. Outras investem em processos que lhes deem maior eficiência e menores custos, igualmente para enfrentar os importados. "Como aumentou significativamente a concorrência com os importados, torna-se necessário diferenciar produtos em termos de qualidade ou criar produtos capazes de reduzir os custos de produção", resume a Fiesp.
Investirão no desenvolvimento de novos produtos os setores de couros, máquinas e equipamentos, madeira, veículos, borracha e plásticos. Já os setores de alimentos e bebidas, eletrônicos e informática, metalurgia e têxtil devem concentrar seus investimentos na inovação de processos produtivos, para reduzir os custos de produção.
As indústrias menos afetadas pelo aumento da entrada de produtos importados no País tendem a manter a estratégia seguida em 2010, isto é, de aumento do faturamento e da capacidade produtiva. Estão nesse caso indústrias dos setores de papel e celulose, açúcar e álcool e móveis. Estes setores, ao contrário dos demais, investirão mais do que em 2010 e investirão sobretudo em máquinas, equipamentos e instalações.
A pesquisa da Fiesp mostra que, quando pressionada por fatores conjunturais, a indústria se volta para a inovação, utilizada como meio de conquistar espaços no mercado. Mas, para contribuir para o progresso do País, a inovação precisa ser mais do que uma ferramenta conjuntural, tornando-se objetivo constante do empresariado. É preciso também que políticas públicas estimulem e apoiem investimentos em inovação, sobretudo em áreas nas quais ela propicie maiores ganhos para o País em termos de produtividade e de mercado.
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