
24 de dezembro de 2012 | 04h35
O presidente do BC, Alexandre Tombini, continua prometendo para o próximo ano uma inflação menor que a de 2012 e bem mais próxima da meta oficial de 4,5% já no terceiro trimestre. Segundo ele, o Brasil terá em 2013 um crescimento econômico maior que o deste ano e com estabilidade monetária e financeira. A estabilidade será favorecida por aumentos salariais mais moderados e por um menor crescimento das operações de crédito.
Essas declarações, formuladas num encontro de fim de ano com jornalistas, em Brasília, chamam a atenção para dois importantes fatores do lado da demanda: a renda salarial e o volume de empréstimos, principalmente aos consumidores. Por mais de um ano dirigentes e economistas do BC insistiram em atribuir a inflação quase exclusivamente a um choque de preços internacionais de alimentos e de algumas outras commodities.
As cotações, segundo eles, deveriam acomodar-se em 2012, por causa da crise internacional, e isso permitiria uma redução segura dos juros. Esse argumento foi usado quando se iniciou a nova rodada de cortes da Selic, no fim de agosto de 2011. Os preços internacionais de fato evoluíram mais favoravelmente nos últimos 12 meses, mas a inflação recuou muito lentamente e voltou a acelerar-se em novembro, com aumentos generalizados nos vários grupos de preços.
Há dias, Tombini e alguns de seus colegas defenderam uma parada na depreciação cambial. Há gordura no câmbio, disse o diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, indicando a intenção de manter o dólar abaixo de R$ 2,10. O presidente do BC pediu atenção para o risco de mais inflação em consequência da desvalorização cambial. Não precisariam de todo esse discurso, se estivessem apenas justificando o esforço para conter uma alta do dólar considerada previsível e normal neste fim de ano. Há algo mais sério nessa conversa.
Reunidos os números recentes e as novas indicações fornecidas por diretores e economistas do BC, parece razoavelmente seguro, neste momento, apostar numa fase de prudência e moderação nas políticas monetária e cambial. O pessoal do BC pode continuar apostando na convergência da inflação para a meta, ao longo de 2013, mas para obter esse resultado terá de renunciar a novos cortes da taxa Selic. Também deverá cuidar do câmbio com muita moderação, para evitar maiores pressões inflacionárias. Tudo isso dependerá, naturalmente, do comportamento da presidente Dilma Rousseff. Se ela continuar cobrando ajustes do câmbio e dos juros, o trabalho da autoridade monetária ficará muito mais complicado.
Se ela quiser, poderá facilitar esse trabalho. Bastará cuidar mais de sua área e cobrar mais esforços dos ministros e dirigentes de empresas estatais para reduzir o desperdício e elevar a eficiência dos programas de investimento. Em relação a esses programas, o otimismo do presidente da Fiesp é certamente injustificado. A má administração dos recursos e dos programas federais causa muito mais danos à indústria, há muito tempo, do que os juros altos e o câmbio valorizado.
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