Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Indústria sem fôlego

Exclusivo para assinantes
Por Redação
Atualização:
2 min de leitura

Confirmado o desastre econômico de 2015, quando a atividade encolheu 3,8%, dados oficiais deste ano continuam mostrando o País atolado na crise e sem perspectiva clara de recuperação nos próximos meses. Em janeiro, como é normal, houve um pequeno repique na produção da indústria, com aumento de 0,4% em relação ao volume de dezembro, descontados os fatores sazonais. O repique foi até maior que o de janeiro do ano passado, quando a variação mensal ficou em 0,2%. Mas qualquer animação diante desse dado será muito precipitada. Em janeiro de 2015, a indústria geral produziu 4,8% menos que um ano antes. Desta vez, a diferença para menos chegou a 13,8% e ninguém pode dizer se o fundo do poço foi alcançado. Os novos números foram divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Poucos dias antes de saírem esses dados, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) havia informado uma alta de 1% no faturamento real da indústria de transformação em janeiro e um avanço de 2,9% nas horas de trabalho. Mas, segundo o mesmo relatório, o emprego caiu pela 12.ª vez consecutiva e o uso da capacidade instalada chegou a 75,9%, o nível mais baixo da série iniciada em 2002. As empresas deverão levar muitos meses para esgotar essa capacidade ociosa, comentou na ocasião o diretor de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. Antes disso, terão pouco ou nenhum estímulo para voltar a investir em seu potencial produtivo, acrescentou. Mesmo com pouco investimento nos últimos anos tem crescido a ociosidade das máquinas, equipamentos e instalações, por causa do baixo ritmo de atividade. No primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em média 2,1% ao ano, muito menos que o observado na maioria dos países emergentes e em desenvolvimento. Com a recessão, iniciada em 2014 e prolongada em 2015, a atividade se contraiu fortemente e o País se aproximou das economias com pior desempenho. Numa lista de 32 países com as contas nacionais de 2015 já divulgadas, o Brasil só aparece acima da Ucrânia e da Venezuela. O maior sinal de vitalidade em janeiro, segundo os dados do IBGE, veio dos fabricantes de bens de capital, com produção 1,3% maior que a de dezembro. Mas também – e principalmente – nesse caso a aparente melhora é apenas um leve respiro de uma indústria quase sufocada. Esses fabricantes produziram no mês 35,9% menos do que um ano antes. O volume acumulado em 12 meses foi 27% menor que o registrado nos 12 meses anteriores. Em 2014, a fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, havia sido 9,3% inferior à de um ano antes. Em 2015, a queda chegou a 25,5%, enquanto o recuo da indústria geral atingiu 8,3%. Como as compras de bens de capital estrangeiros também diminuíram nos últimos anos, o quadro de redução do investimento produtivo está muito bem caracterizado. O pior desempenho em janeiro foi o do segmento de bens duráveis, com produção 2,4% abaixo do volume de dezembro. O total produzido no mês foi 28,2% menor que o de janeiro de 2014 e o acumulado em 12 meses diminuiu 19,9% – números só melhores que os de bens de capital. A piora das condições de crédito agravou os efeitos da redução da renda familiar, afastando o consumidor das lojas de veículos e de outros bens duráveis de consumo, geralmente comprados com financiamento. A piora do setor automobilístico prosseguiu em fevereiro, com produção 12,5% menor que a de janeiro e 36,4% mais baixa que a de um ano antes, segundo a associação dos fabricantes. O número de caminhões produzidos foi 27,3% maior que o de janeiro, mas 30,8% inferior ao de fevereiro do ano passado, confirmando a trava nos investimentos. O prolongamento da crise política e a insistência na política econômica sem rumo claro tornam difícil de prever qualquer melhora significativa no quadro da indústria em 2016.