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Inflação, incerteza e Copom

Recuo da inflação e aumento da incerteza, segundo indicadores da FGV, compõem cenário de luz e sombra para o Copom

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Por Redação
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Recuo da inflação e aumento da incerteza compõem o cenário de luz e sombra desenhado por dois indicadores divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ontem, poucas horas antes de começar mais uma reunião do grupo responsável pela fixação dos juros básicos. A decisão sobre a taxa básica deve ser anunciada hoje no começo da noite, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central terminar o ritual celebrado a cada mês e meio. O trabalho é realizado em dois dias. O primeiro se destina ao exame dos indicadores atualizados e das perspectivas da economia. No segundo ocorre a deliberação sobre os juros e, se for o caso, sobre outras condições do crédito. O objetivo principal é o controle da inflação, atribuição mais importante da autoridade monetária, mas outras preocupações, como a geração de empregos, também podem pesar na condução da política.

Os dois levantamentos publicados ontem de manhã pela FGV são partes do conjunto de referências do Copom. O Índice Geral de Preços – Mercado (IGPM) confirma o recuo da inflação observado a partir do segundo semestre do ano passado. Esse índice, medido entre os dias 21 de um mês e 20 do mês seguinte, diminuiu 0,93% em maio e aumentou apenas 1,57% em 12 meses.

Essa evolução benigna vem sendo garantida principalmente por seu componente mais importante, o conjunto dos preços por atacado, com peso de 60% na formação do número global. Esse indicador baixou 1,56% no mês, 2,89% no ano e 0,15% em 12 meses, graças, essencialmente, à moderação dos preços agropecuários.

Os preços ao consumidor, com peso de 30% no conjunto, subiram 0,29% em maio, 2,05% no ano e 3,91% em 12 meses. No prazo mais longo, foi uma evolução pouco mais favorável que a do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência da política monetária. Nos 12 meses terminados em abril, o IPCA aumentou 4,08% e ficou abaixo da meta anual de 4,5%.

Os números da inflação seriam mais um estímulo para um avanço no programa de redução dos juros, se os membros do Copom só considerassem esse grupo de informações. Poderiam arriscar-se a um pouco mais de ousadia, podando 1,25 ponto porcentual, em vez de 1 ponto. Mas a evolução recente e as perspectivas dos preços no curto prazo são apenas parte das informações levadas em conta.

Outros dados, como a conjuntura internacional, as condições do financiamento externo e do câmbio, o cenário do mercado de empregos e o ritmo da demanda interna também são insumos para a deliberação. Os fatores de insegurança podem ser especialmente importantes em alguns momentos, e esta é certamente uma dessas ocasiões.

O Indicador de Incerteza da Economia Brasil (IIE-Br), produzido pela FGV, retrata com números o cenário de insegurança, agravado a partir da semana passada. Um salto de 9,3 pontos em maio, para 128,1 pontos, interrompeu a tendência de queda observada nos últimos meses. De janeiro a abril o índice havia baixado de 136,4 pontos para 118,8, com apenas um repique para 122,7 pontos em março. Pode-se creditar o novo aumento “quase totalmente à crise política deflagrada pela divulgação da gravação de conversa do presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista”, disse o economista Pedro Costa Ferreira, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.

A expressão “quase totalmente” é uma demonstração de cautela, mas outros fatores, como as dificuldades de negociação das reformas, ficaram mais complicados a partir das novas pressões contra o presidente da República. Falou-se nos últimos dias, por exemplo, sobre a dificuldade de aprovação, a curto prazo, de algo mais que o limite de idade, no caso da reforma da Previdência.

Pode haver um componente especulativo nesse comentário, mas o surgimento de condições favoráveis a esse tipo de especulação já é um importante dado negativo. Perspectivas de ajuste fiscal e de reformas, hoje mais incertas, têm sido itens essenciais para as deliberações do Copom.