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Inflação, juros e crescimento

Inflação baixa é o maior benefício possível para famílias com o desemprego elevado

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Por Redação
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Mais que uma bênção para os consumidores, inflação baixa tem sido, e pode ser novamente, um fator positivo para o crescimento econômico. A criação de empregos poderá vir um pouco mais tarde, mas chegará, certamente, se a produção se expandir mais velozmente. Com alta de 0,22% em abril, 0,92% no ano e 2,76% em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) proporciona espaço, mais uma vez, para um corte dos juros básicos. Preços ainda bem comportados fortalecem a expectativa de redução da Selic, a taxa básica, de 6,50% para 6,25% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, marcada para os dias 15 e 16.

Para o tomador final, consumidor ou empresa, o custo dos empréstimos tem caído mais lentamente que a taxa administrada pelo Copom. Mas desde o ano passado tem havido alguns efeitos benéficos para o consumo e para a produção, especialmente na área de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. Além disso, a administração da dívida pública tem ficado menos custosa – um ganho importante num país com enorme desajuste nas contas governamentais.

Turbulências no mercado cambial poderiam justificar alguma dúvida quanto a uma nova redução da Selic na próxima semana. A alta recente do dólar, em todo o mundo, tem refletido a insegurança geopolítica e temores de inflação mais alta e elevação mais rápida dos juros nos Estados Unidos.

Mas esses temores devem ter sido atenuados com a divulgação, em Washington, do aumento dos preços ao consumidor em abril. A variação mensal, de apenas 0,20%, foi avaliada como boa surpresa. Os juros básicos continuarão subindo nos Estados Unidos, mas sem a pressão, por enquanto, de preços mais acelerados.

No Brasil, os economistas do mercado continuam projetando inflação ao consumidor abaixo de 4% para este ano. Deve haver alguma aceleração, com recuperação de alguns preços de matérias-primas no atacado. Além disso, a alta do dólar deve produzir algum efeito sensível a partir de maio, mas o repasse ao consumidor será provavelmente limitado.

Por enquanto, o IPCA avança moderadamente, apesar do impulso em abril. A variação passou de 0,09% em março para 0,22% no mês passado, mas o aumento acumulado no ano (0,92%) foi o menor desde a implantação do Plano Real, em 1994. O resultado em 12 meses subiu de 2,68% para 2,76%, mas, apesar da ligeira aceleração, continuou abaixo do limite inferior de tolerância, fixado em 3%. Números mais altos deverão surgir nos próximos meses, com mais certeza no segundo semestre, mas o balanço final de 2018 ainda deverá mostrar uma inflação abaixo da meta anual de 4,5%.

Especialmente importante é a evolução ainda benigna dos preços pagos pelas pessoas de renda mais baixa, na série do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O IPCA é baseado no orçamento médio das famílias com ganho mensal de 1 a 40 salários mínimos. A referência do INPC é a despesa típica das famílias com rendimento de 1 a 5 salários mínimos, sendo o chefe assalariado. Esse indicador subiu 0,21% em abril (contra 0,07 em março). A alta acumulada em quatro meses, de 0,69%, foi a menor para o período de janeiro a abril desde o começo do Plano Real. A variação acumulada em 12 meses passou de 1,56% em março para 1,69% em abril.

Famílias com rendimento mensal entre 1 e 5 salários mínimos sempre terão motivo para se queixar das condições de vida. Um aumento da passagem de ônibus, por exemplo, pode ser um transtorno, mesmo quando outros preços evoluem favoravelmente. Mas, no dia a dia, a inflação contida resulta em melhora do padrão de consumo ou em alívio, mesmo quando pouco perceptível, do orçamento sempre curto.

Inflação baixa é o maior benefício possível para a maior parte das famílias enquanto o desemprego permanece elevado. Maior oferta de empregos virá com crescimento econômico mais veloz. Isso dependerá de mais ajustes e de maior confiança dos empresários.