
12 de setembro de 2014 | 02h05
Se alguém quiser uma indicação mais segura de quando a inflação anual chegará a 4,5%, terá de ser paciente e continuar esperando a boa notícia. Cautelosamente, os autores da ata evitaram chegar a esse detalhe. Segundo eles, o começo da "trajetória de convergência" será nos "trimestres iniciais" de 2016. Mencionados assim, no plural, devem ser os dois primeiros trimestres. Mas o texto aponta só o provável início da convergência. O final permanece como um mistério. Os otimistas podem imaginá-lo em 2016.
Pouco mudou no panorama da inflação, segundo a ata, embora a taxa prevista para este ano seja agora menor que a estimada na reunião anterior do Copom, no meio de julho. Também os economistas do mercado cortaram suas previsões para 2014 - de 6,48% para 6,27%, no período coberto pelo relatório. A perspectiva, apesar dessa pequena mudança, continua ruim. Se houve algum sucesso no combate à elevação de preços, foi muito limitado. Os dirigentes do BC permanecem à espera de efeitos mais sensíveis da alta de juros. Essa expectativa tem sido citada há muito tempo, nas atas divulgadas oito dias depois de cada reunião.
A inflação, de acordo com o texto, continua alimentada basicamente pelos mesmos fatores. O aumento de salários continua superando, neste ano, os ganhos de produtividade. Além de pressionar os custos de produção, esse descompasso ainda contribui para manter a demanda à frente da oferta de bens e serviços, desequilibrando os preços. Esse desajuste é também sustentado pelo aumento do crédito, embora mais moderado que nos anos anteriores, e pelo desarranjo das contas públicas. Este ponto é tratado, como de costume, com boas maneiras.
Os autores da ata voltam a mencionar a importância de resultados melhores das contas públicas para o combate à inflação e para a criação de expectativas econômicas mais favoráveis. É uma forma polida de lembrar ao Executivo a necessidade de melhor gestão de receitas e despesas do Tesouro. Mas o documento vai além da polidez. Novamente, como tem feito há muitos meses, a ata menciona a expectativa de um avanço das contas públicas "para a zona de neutralidade". Nessa zona, por enquanto meramente imaginária, a gastança federal estaria controlada e deixaria de contribuir para o aumento de preços.
Não se sabe se a presidente Dilma Rousseff tem lido as atas de reuniões do Copom. Se ler, provavelmente gostará dessa passagem, assim como demonstrou ter gostado da redução dos juros, iniciada no fim de agosto de 2011. Foi uma decisão perfeitamente de acordo com seu discurso político. Essa redução foi lamentavelmente interrompida em 2013. A interrupção ocorreu porque a inflação continuou elevada e com risco de atingir níveis bem mais altos. Naquele momento, em abril do ano passado, a imagem do BC teria descido a níveis historicamente baixos, se o Copom se mantivesse empenhado em cumprir a promessa da presidente de reduzir os juros. Um BC totalmente sem credibilidade seria um desastre a mais para uma economia já desarranjada.
O comentário mais otimista da nova ata veio enrolado: "As taxas de crescimento da absorção interna e do PIB se alinharam" e a economia deve expandir-se menos que em 2013. Traduzindo: com a estagnação econômica, o desajuste entre a demanda interna e a produção tende a diminuir. Com isso, as pressões inflacionárias devem arrefecer. Pode ser. Por enquanto, a economia continua em marcha lenta e a inflação permanece elevada e com sinais de aceleração. É cedo para ser otimista.
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