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Insegurança para investir

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Por Redação
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O empresariado se mostra muito menos seguro que o governo quanto à recuperação da economia nos próximos meses. Pela primeira vez em cinco anos, a incerteza sobre a demanda foi apontada como a principal causa do desinteresse pelo investimento em capital fixo, isto é, em máquinas, equipamentos e instalações, na sondagem realizada em abril e maio pela Fundação Getúlio Vargas e divulgada ontem. Entre 2004 e 2008, os entrevistados indicaram a elevada carga tributária como o principal fator de desestímulo a novos investimentos. Desta vez, a incerteza quanto à evolução do mercado foi mencionada em 50% das respostas - quase o triplo da frequência observada no ano passado, 18%. A limitação de recursos da empresa apareceu em segundo lugar (35%). O peso dos impostos e contribuições caiu para a terceira posição (29%). Os dirigentes de empresas puderam selecionar quantos fatores quisessem, ordenando-os de acordo com a importância. A pesquisa cobriu 820 indústrias de transformação de 24 Estados, com 985 mil empregados e faturamento de R$ 451 bilhões em 2007. O cenário esboçado nessa pesquisa não parece muito melhor que aquele revelado pelo balanço geral da economia no primeiro trimestre. De janeiro a março, o investimento geral foi 12,6% menor que nos últimos três meses de 2008, segundo as contas nacionais publicadas na última semana pelo IBGE. Esse dado inclui os gastos em infraestrutura, enquanto a sondagem da FGV só se refere aos investimentos da indústria de transformação. Mas a tendência é a mesma. Pela sondagem da FGV, a disposição dos empresários não deve ter mudado muito pelo menos até o mês passado. Em 2008, 43% dos entrevistados durante a sondagem apontaram alguma dificuldade para investir em capital fixo. Neste ano, 87% deram essa resposta - o dobro, portanto. Aqueles ainda dispostos a investir mostram-se mais interessados, nesta altura, em aumentar a eficiência produtiva (produzir mais com menos gastos) do que a capacidade de produção. O aumento da eficiência foi indicado como principal motivação por 36% dos dirigentes, a maior proporção desde 2003 (43%), outro ano de recessão. A expansão da capacidade foi apontada por 24%, proporção quase igual à observada em 2003 (23%). A prioridade atribuída à produtividade revela uma preocupação com os custos e, portanto, uma baixa disposição para contratar mão de obra. No conjunto, os valores investidos ainda poderão crescer, porém muito menos do que no ano passado. Em 2008, o investimento realizado foi 16,4% maior que o de 2007, segundo os dados da FGV. Neste ano, a evolução deverá ficar em 7,8%, de acordo com a sondagem. No ano passado, o maior crescimento ocorreu na própria indústria de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Foi uma resposta normal à demanda crescente de bens de produção por parte dos vários segmentos empresariais. Neste ano, o aumento do investimento no setor de bens de capital deverá ficar em 8,1%, de acordo com os planos indicados. Mesmo esta projeção parece otimista, quando se observa a redução do valor investido em toda a economia no primeiro trimestre. Segundo a FGV, 26% das empresas cobertas pela pesquisa não têm nenhum programa de investimento em 2009. Se houver alguma recuperação da economia brasileira, a partir deste ou do próximo trimestre, seu principal motor deverá ser o consumo privado, combinado com o custeio do setor público. Os números do varejo em abril, no entanto, indicam retração dos consumidores e novos estímulos fiscais talvez sejam necessários. A contribuição do investimento privado para a reativação da economia deverá ser muito pequena, se não nula, enquanto não houver sinais mais fortes de mudança. A Petrobrás deverá manter seus planos em andamento, porque tem acesso ao crédito e, além disso, a maior parte de seus projetos é de longo prazo. Os investimentos custeados pelo Tesouro Nacional continuarão, com certeza, em marcha muito lenta. O setor externo poderá dar alguma ajuda, se a China e alguns outros mercados importantes continuarem comprando grandes volumes de produtos básicos.