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Inundação de dinheiro

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Por Redação
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O governo reforçou as defesas contra a inundação de moeda estrangeira, um "tsunami monetário", segundo a presidente Dilma Rousseff, um dia depois de anunciada mais uma rodada de financiamento farto e barato pelo Banco Central Europeu (BCE). Estados Unidos e Europa continuam inundando os mercados com dólares, euros e libras. A oferta excessiva de moedas do mundo rico provoca a valorização do real e de outras moedas de países em desenvolvimento. Isso encarece as exportações desses países, facilita a invasão de seus mercados por uma onda de importações baratas e prejudica sua indústria. Neste ano, até o fim de fevereiro, o dólar ficou 8,6% mais barato, no Brasil. Uma desvalorização maior só foi evitada graças a fortes intervenções do Banco Central (BC). Na quarta-feira o BCE anunciou a concessão de 529,5 bilhões de financiamentos a 800 instituições, com juros baixos e três anos de prazo. Empréstimos de 489,2 bilhões em condições semelhantes haviam sido feitos a 523 bancos em dezembro. Parte desses recursos tem sido aplicada em papéis dos Tesouros endividados, como os da Espanha e da Itália. Mas uma parcela vai para mercados com perspectivas de alto rendimento, como o brasileiro. Já na quarta-feira, a notícia da nova enxurrada de euros afetou os mercados e o BC interveio para conter a valorização do real. Na quinta-feira, o governo estendeu para empréstimos externos com prazos inferiores a três anos a alíquota de 6% do IOF. O limite anterior era 720 dias. É uma forma de conter a corrida ao crédito externo, fator de valorização do real. Fora da zona do euro, o Banco da Inglaterra também continua emitindo muito dinheiro para estimular a economia. Recentemente a sua diretoria decidiu destinar mais 50 bilhões de libras à compra de títulos públicos em poder das instituições financeiras - ação semelhante àquela adotada nos EUA pelo Fed. O Fed encerrou em junho sua segunda rodada de afrouxamento monetário, conhecida pela sigla QE2 (Quantitative Easing 2). Nessa rodada foram emitidos US$ 600 bilhões. Parte desse dinheiro desembocou nos países emergentes e nas bolsas de commodities, reforçando a alta das cotações. Mesmo sem um QE3, a política americana continuou expansionista, com juros na faixa de zero a 0,25% ao ano e intervenções no mercado. Em janeiro, o Fed anunciou a disposição de manter uma política "altamente acomodatícia" até 2014. Na quarta-feira, o presidente da instituição, Ben Bernanke, reafirmou no Congresso a avaliação do mês anterior: a recuperação da economia americana continua lenta e o mercado de trabalho permanece "longe do normal", embora o desemprego tenha diminuído. O aumento de preços dos combustíveis deve gerar pressões inflacionárias durante algum tempo, mas isso passará e a inflação continuará controlada, segundo Bernanke. Não se deve esperar um aperto na política monetária americana até 2013. O FMI divulgou nesta semana um estudo sobre a intervenção dos bancos centrais nos mercados de câmbio. Os autores do estudo defendem esse procedimento como defesa contra fortes distorções geradas pelo fluxo de recursos. Contrariando uma opinião tradicional, admitem ser possível conciliar as políticas de meta de inflação e de estabilização cambial. Há muito tempo a prática do BC brasileiro tem comprovado a veracidade dessa tese, embora a conciliação de objetivos possa ser complicada em certos momentos. O Ministério da Fazenda também tem procurado controlar o ingresso de capitais, por meio da tributação - outra política antes condenada, mas encorajada nos últimos anos pelo FMI. Todas essas medidas produzem benefícios passageiros, causam distorções e convém usá-las com parcimônia. Além disso, juros menores no Brasil poderiam reduzir o estímulo à especulação com moedas. O BC deve promover novos cortes, mas não poderá ir muito mais longe, sem prejudicar o combate à inflação, se a poupança interna não for aumentada por meio de um controle mais sério do gasto público.