Mais de mil projetos de investimento em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) estão sendo analisados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mostrou reportagem de Andréa Vialli, publicada segunda-feira pelo Estado. Os investidores são empresas que veem nas PCHs a possibilidade de suprir suas necessidades de energia nos próximos anos, com mais presteza. As PCHs são usinas com capacidade de geração de 1 MW a 30 MW. Há, hoje, em operação 346 usinas desse tipo, com potência outorgada de 2,857 mil MW, ou seja, 2,68% da capacidade total do sistema elétrico brasileiro, de 104,858 mil MW. Outras 70 PCHs estão sendo construídas, com potência de 1,047 mil MW. Há mais 159 outorgadas entre 1998 e este ano, mas que não começaram a ser construídas, conforme os dados da Aneel. Se forem liberadas e construídas todas as PCHs pleiteadas, o potencial de geração dessas usinas chegará a 7,5 mil MW. E, nas próximas quatro décadas, esse potencial poderá ser multiplicado por três, estima o secretário executivo do Centro Nacional de Referência em PCHs (Cerpch) da Universidade Federal de Itajubá, Geraldo Lúcio Tiago Filho. "O potencial conhecido hoje das PCHs chega a 25 gigawatts (GW) e corresponde a duas vezes a potência de Itaipu", afirma o especialista. Não faltam exemplos de interesse nas pequenas usinas, tanto de grupos nacionais como estrangeiros. Na sexta-feira, o conselho de administração da Light aprovou a contratação de um consórcio das construtoras Orteng e Quebec para a realização das obras da PCH Paracambi, com investimentos de R$ 185 milhões. O Grupo Ersa, formado pelo Pátria Investimentos, a norte-americana Eton Park, o fundo BBI FIP, a GMR Empreendimentos Energéticos e o banco de desenvolvimento alemão DEG (que faz parte do Grupo KfW), controla três PCHs em operação, tem mais nove em construção em Minas Gerais e Santa Catarina, com potência de 300 MW, e já elabora o inventário de rios para acrescentar 1.000 MW à capacidade atual. A canadense Brookfield Energia Renovável (antiga Brascan) gera 536 MW em 36 PCHs, construirá mais uma neste ano e quatro no ano que vem em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Passado o momento mais difícil da crise financeira, "demos continuidade a dois projetos que já estavam iniciados e vamos retornar os investimentos em 2010", declarou o presidente da empresa, Luiz Ricardo Renha. Entre os maiores grupos geradores do País, a Cemig lançou, em 2004, o programa Minas PCH, que estimula o aproveitamento dos rios do Estado e prevê investimentos de R$ 1 bilhão em PCHs com capacidade de 400 MW. Os investimentos em PCHs são estimulados pelo custo de geração, inferior ao dos projetos de grande porte. Outro estímulo é a maior rapidez na obtenção de licenças ambientais. Para o País, a vantagem é que a oferta de eletricidade fica menos dependente de grandes projetos, como Belo Monte. Com capacidade de geração de 11 mil MW, o processo de licenciamento ambiental de Belo Monte foi encaminhado pela Eletrobrás ao Ibama em março. O governo federal ainda pretende lançar o edital neste semestre, depois de 20 anos de estudos e da oposição de grupos ambientalistas, indígenas e religiosos, além do Ministério Público. Um consórcio formado pela Eletrobrás, Andrade Gutierrez, OAS, Odebrecht e Engevix faz os estudos iniciais de viabilidade econômica de cinco usinas hidrelétricas no Peru, com potência instalada de 6 mil MW, para produzir a partir de 2015. Calcula-se que o Peru consumirá apenas 20% da energia gerada pelas usinas. Outro benefício que decorre da expansão das PCHs é a diversificação geográfica dos investimentos. "Os bons potenciais no Sul e Sudeste do Brasil já são aproveitados", afirma Tiago Filho. "A expansão se dará rumo aos Estados de Goiás, Mato Grosso e sul do Amazonas." Mesmo não afastando os riscos de falta de energia quando o crescimento econômico se acelerar, as PCHs aumentam a segurança energética.