Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Juro maior num cenário pior

Exclusivo para assinantes
Por Redação
Atualização:
2 min de leitura

Juros mais altos no próximo ano, um dos piores pesadelos do empresariado, são dados como certos, ou quase certos, desde o fim do mês passado, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por 6 votos a 2, manter a taxa básica, a Selic, em 14,25%. Aqueles dois votos divergentes foram vistos como um forte sinal de alerta, reiterado uma semana depois, com mais detalhes, na ata da reunião. Agora, pela primeira vez a projeção de uma taxa mais alta no fim de 2016 aparece na pesquisa Focus do Banco Central (BC), uma consulta semanal a cerca de 100 instituições financeiras e escritórios de consultoria. A mediana das projeções indica uma taxa de 14,63% em vigor dentro de 12 meses. Um primeiro aumento levará a Selic a 14,50% já em janeiro, de acordo com a pesquisa. Outras altas deverão ocorrer, porque a média do ano foi estimada em 14,92%.

Quatro semanas antes, a taxa básica prevista para o fim de 2016 era de 13,25%. A expectativa de inflação era um pouco mais otimista, embora o aumento de preços calculado para os próximos 12 meses, de 6,50%, atingisse o limite de tolerância fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC.

Mas os dados oficiais continuaram piorando. Nos 12 meses terminados em novembro chegou a 10,48% a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). De janeiro a novembro, a variação atingiu 9,62%. Na última pesquisa Focus a estimativa para 2015 bateu em 10,61%. A projeção para 2016 foi a 6,80%, já ultrapassando com alguma folga o teto de tolerância e deixando muito longe a meta oficial, de 4,50%. Dirigentes do BC têm repetido a promessa de levar a inflação à meta em 2017, mas a mediana das previsões do mercado é de 5,10%, segundo a sondagem.

As projeções de inflação, acompanhadas da expectativa de juros mais altos, seguem caminho oposto ao das estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) e da atividade industrial. Os economistas do setor financeiro e das consultorias continuam rebaixando suas estimativas de produção. Em um mês, a contração estimada para o PIB de 2015 passou de 3,10% para 3,62% (estes dados, como os demais, são medianas). Para 2016 já se calcula um PIB 2,67% menor que o deste ano. Quatro semanas antes, estimava-se um recuo de 2%.

Embora os números sejam menos negativos que os calculados para 2015, seria uma ilusão imaginar um desempenho melhor que o deste ano. Afinal, a queda de 2,67%, se confirmada, ocorrerá a partir de uma base já rebaixada em 3,62% pela recessão. A variação estimada para os 12 meses à frente só é positiva em um aspecto: indica uma redução da velocidade da queda. As projeções nem sequer apontam o momento da estabilização. De toda forma, a economia só se estabilizará em nível muito inferior ao de dois anos antes.

As projeções para a indústria continuam sendo as piores, com retração estimada de 7,70% neste ano e de 3,45% em 2016. A melhora esperada para o saldo comercial, com superávit de US$ 31,44 bilhões no próximo ano, continuará dependendo principalmente, portanto, da forte redução da demanda de bens importados.

Por todas as estimativas, há uma probabilidade muito alta, portanto, de maior desemprego nos próximos meses. Desocupação mais elevada e juros mais altos deverão afetar o consumo e, portanto, agravar as condições de vida de milhões de famílias, tornando mais difícil a recuperação da atividade econômica.

O prolongamento da crise política poderá ainda tornar mais feio o cenário. Mas a superação ou mitigação da crise, com ou sem impeachment da presidente Dilma Rousseff, de nenhum modo permitirá uma solução indolor para os desajustes da economia. Na melhor hipótese, a saída será mais veloz e o sacrifício, mais breve, mas uma terapia fácil e confortável está fora de consideração. Quem falar em saída fácil e rápida e em pronta retomada do crescimento estará tentando enganar os cidadãos.