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Juros altos e credibilidade

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Por Redação
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O combate mais firme à inflação, com dois aumentos de juros depois do segundo turno, é o único esforço concreto realizado em Brasília, até agora, para tornar menos desastrosa a herança deixada para os próximos quatro anos. A posição internacional do Brasil, muito ruim, deveria ser uma razão mais que suficiente para justificar o aperto monetário, agora intensificado com a alta de 0,5 ponto da taxa básica, a Selic, para 11,75%. Nos 12 meses até outubro, os preços ao consumidor subiram no País 6,59%, quatro vezes a média calculada para os 34 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1,7%. Os avanços nas outras áreas da política econômica têm sido apenas simbólicos, além de escassos. A presidente Dilma Rousseff tem procurado conquistar a confiança do mercado financeiro e do setor produtivo, mas suas palavras, até agora, combinam mal com seus atos. Pode-se até compreender o projeto de mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), concebido para dispensar o governo do compromisso com um superávit primário neste ano. Na melhor hipótese, é uma tentativa de varrer o assunto, afastar o risco de uma acusação de crime de responsabilidade e criar condições para um recomeço em novos termos. Mas o precedente é ruim, os novos termos da política são apenas uma promessa e a nova equipe nem tomou posse. Além disso, a liberação de mais R$ 30 bilhões do Tesouro para o BNDES é mais um golpe contra as contas públicas - previsível, sem dúvida, mas claramente oposto à orientação defendida pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O novo aperto da política monetária, por enquanto aceito pela presidente reeleita, é até agora a única resposta a uma inflação persistente e - como nos últimos cinco anos - distante da meta de 4,5%. Até a semana passada estava em 6,43% a mediana das projeções do mercado para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos 12 meses deste ano. A previsão para 2015 era um pouco mais alta (6,49%) e praticamente batia no limite de tolerância, de 6,5%. O IPCA ficou em 0,42% em outubro, uma taxa mensal ainda muito alta. Mantida durante um ano, resultaria em 5,16%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve divulgar hoje o número de novembro. Mesmo com algum recuo, ainda haverá motivos para muita preocupação. Novas pressões devem ocorrer em 2015, com a correção de preços politicamente represados. Além disso, espera-se um aperto no mercado financeiro internacional, por causa de uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos. Se isso se confirmar, pode-se prever uma depreciação do real em relação ao dólar, com impacto inflacionário no Brasil. O novo aumento de juros foi aprovado por unanimidade pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do BC. Faltou essa unanimidade quando se decidiu o aumento anterior, de 0,25 ponto porcentual, logo depois de confirmada a reeleição. O cenário prospectivo deve ter-se tornado, portanto, mais preocupante. Isso ficará mais claro com a publicação, prevista para a próxima quinta-feira, da ata da reunião. No comunicado de quarta-feira, o Copom deixou aberta a possibilidade de novos aumentos de juros, mas o "esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia". Mais uma vez os dirigentes do BC levam em conta os possíveis efeitos defasados de outras medidas e "outros fatores". Pode-se interpretar esta expressão de várias maneiras. Um dos fatores mencionados tão vagamente poderá ser uma condução mais cuidadosa e mais austera da política orçamentária. Isso dependerá essencialmente do ministro da Fazenda e, é claro, de como sejam enfrentadas as pressões a favor da gastança e da distribuição de benefícios fiscais.Se as contas públicas forem bem geridas, o combate à inflação dependerá menos dos juros altos. Para isso, a presidente deverá deixar o ministro da Fazenda trabalhar e, além disso, defendê-lo das pressões de políticos, de empresários amigos e, principalmente, dos petistas.

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