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Ladeira abaixo

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Por Redação
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Os problemas na economia se aprofundam, tornando mais dura a vida dos brasileiros, pondo em xeque o padrão de consumo das famílias “emergentes” e complicando o conserto, já muito mal planejado, das contas de governo. A economia encolheu mais 0,02% em julho, segundo o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), e encolherá ainda mais até o fim do ano, de acordo com as projeções do mercado financeiro. Todos os dados apontam mais sofrimento para o brasileiro, neste e no próximo ano, com negócios muito devagar, desemprego elevado e inflação muito acima da meta de 4,5%. Em julho, o índice de atividade ficou 3,67% abaixo do nível de um ano antes. O resultado de janeiro a julho foi 2,71% inferior ao do mesmo período de 2014. Em 12 meses, a queda chegou a 1,89%. Esses números do IBC-Br são da série livre de efeitos sazonais.

Usado como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), esse indicador confirma a tendência de um terceiro trimestre muito ruim, já apontada pelos números parciais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e por entidades privadas. A produção industrial caiu 1,5% de junho para julho e ficou 8,9% abaixo da verificada um ano antes. Em 12 meses, a queda chegou a 5,3%.

O pior desempenho, como se poderia facilmente supor, tem sido o do segmento produtor de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. O resultado de julho ficou 27,8% abaixo do observado em igual mês do ano anterior. A redução em 12 meses foi de 16,8%.

Esses dados confirmam o baixo grau de confiança empresarial apontado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Sem ampliação ou modernização do sistema produtivo, e até sem reposição de equipamentos em muitas empresas, o potencial de crescimento do País se mantém muito baixo. Muito provavelmente continua diminuindo. A próxima fase de crescimento começará com alguns anos de expansão muito limitada. Na melhor hipótese, até poderá ocorrer algum arranque, no começo, mas o ritmo médio será baixo por um bom tempo.

Para este ano, a mediana das projeções do mercado financeiro aponta um PIB 2,70% menor que o do ano passado. Em 2014, o crescimento foi praticamente nulo – apenas 0,1%, de acordo com o IBGE. Para 2016 o mercado estima contração de 0,80%. As duas previsões publicadas ontem são piores que as da semana anterior, quando se apontava uma redução de 2,55% em 2015 e um recuo de 0,60% em 2016. O desempenho do setor industrial deve continuar muito fraco nos dois anos, com retrocesso de 6,45% neste ano e avanço de apenas 0,20% no próximo.

A indústria, especialmente a de transformação, esteve muito mal nos últimos quatro anos e sua recuperação será provavelmente muito vagarosa. Isso continuará comprometendo o nível e a qualidade do emprego no País. Em julho, o pessoal ocupado na indústria foi 6,4% menos numeroso que um ano antes. O emprego industrial, segundo o IBGE, diminuiu 1,4% em 2012, recuou mais 1,1% em 2013 e baixou mais 3,2% em 2014. De janeiro a julho deste ano ficou 5,4% abaixo do nível dos primeiros sete meses do ano passado.

Em países com padrões de governo mais próximos da normalidade, recessão e desemprego são geralmente acompanhados de um recuo da inflação. O Brasil parece um caso especial – e mais complicado.

A inflação em 12 meses continua acima de 9% e assim deve continuar até o fim do ano. Para 2015, a mediana das projeções do mercado aponta 9,34%, número pouco maior que o da apuração anterior, 9,28%. Em 2016, de acordo com a pesquisa, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficará em 5,70% (5,64% na semana anterior). Ainda estará muito acima da meta oficial, de 4,5%. Para 2017, as projeções apontam 4,70%. A redução gradual deverá decorrer muito mais da paradeira econômica do que de fatores positivos, como a melhora das contas públicas. Se isso se confirmar, como baixar os juros para facilitar o crescimento?