09 de maio de 2015 | 03h00
Cada um desses movimentos, mesmo sem efeitos secundários, já causa graves problemas para os brasileiros, desarranjando o orçamento das famílias e agravando os custos das empresas. Mas suas consequências podem ser bem mais sérias, se esses aumentos forem repassados com facilidade e contaminarem os demais preços. Um dos objetivos anunciados pelos diretores do BC, membros do Copom, é limitar esse contágio e conter os efeitos secundários em 2015, impedindo seu transbordamento para 2016. Para isso será necessário, quase certamente, elevar de novo os juros básicos.
Tarifas de eletricidade e preços da gasolina e do gás, entre outros, compõem o grupo dos chamados preços administrados e monitorados. Para esse grupo, o Copom agora projeta um aumento de 11,8% em 2015. A projeção anterior, discutida na reunião de março, era de 10,7%. A última estimativa do mercado financeiro, coletada na semana passada, é um pouco pior, 13,5%. Para 2016, o Copom calcula uma alta de 5,3%.
Se for contida a ramificação desses aumentos – os chamados efeitos secundários –, a inflação poderá ficar mais branda em 2015. Mas isso dependerá também de outras condições. Exemplo: os técnicos do BC levam em conta, em suas projeções, o cumprimento da meta fiscal anunciada para 2015, um superávit primário de R$ 66,3 bilhões no conjunto das contas de todos os níveis de governo. O superávit primário é o dinheiro guardado para o pagamento de juros da dívida pública, providência necessária, e nem sempre suficiente, para evitar um endividamento maior.
Juros básicos maiores, no entanto, resultam em maiores encargos financeiros para o governo. Assim, o aperto das condições de crédito, adotado para o combate à inflação, acaba prejudicando a administração orçamentária e impondo maiores dificuldades ao ajuste, já complicado, das contas públicas.
Não há, no entanto, escolhas fáceis. Os problemas enfrentados pela equipe econômica resultam de uma longa acumulação de decisões erradas e até de tentativas de mascarar a inflação e o estado das finanças públicas. É inviável, nesta altura, adiar os consertos. A Petrobrás e as empresas do setor elétrico tiveram enormes prejuízos com a contenção política de preços. Isso afeta suas possibilidades de investimento e, portanto, as perspectivas da economia nacional. E isso é apenas uma parte dos problemas.
É preciso aceitar a correção dos preços distorcidos politicamente, eliminar a gastança, cortar os benefícios fiscais concedidos sem planejamento e vencer o descompasso – mencionado de novo na Ata do Copom – entre os aumentos salariais e os ganhos de produtividade. Ninguém deve esperar uma terapia suave para a inflação e para os desarranjos das finanças governamentais. Os desacertos foram longe demais.
Há dois toques de otimismo na Ata do Copom. Um deles é a expectativa de êxito no ajuste das contas públicas. Para isso será preciso vencer, entre outros, importantes obstáculos políticos. O outro é a referência às possibilidades de se chegar a dezembro de 2016 com a inflação na meta de 4,5%. Se isso se confirmar, será com certeza à custa de políticas muito duras e nada populares.
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