
23 de dezembro de 2010 | 00h00
O relator do Orçamento Municipal do próximo ano, vereador Milton Leite (DEM), explicou que o aumento dos subsídios é necessário para fechar "o buraco do sistema de ônibus". Se os subsídios fossem a solução, o sistema de transporte de São Paulo seria um dos melhores do mundo. Em vez de encher os cofres das viações com recursos públicos, a Prefeitura deveria investir em corredores de ônibus, para dar maior velocidade ao sistema, e no controle da qualidade do atendimento prestado à população pelas concessionárias e cooperativas de perueiros.
O transporte público sempre foi usado como bandeira eleitoral. Foi assim com o sistema integrado de transportes planejado pela ex-prefeita Marta Suplicy, único nos últimos anos a ter apoio dos especialistas em mobilidade urbana. O projeto assegurava a distribuição racional da frota e sua renovação, a criação de vias exclusivas para a circulação dos veículos de transporte público, tecnologia de ponta para o controle dos itinerários, velocidade e horários a serem cumpridos pelos ônibus e vans. E integrava, por meio do Bilhete Único, ônibus, vans, metrô e trens com tarifa mais justa.
A sua própria autora, no entanto, falhou ao colocar o plano em prática. Priorizou o que lhe traria ganhos eleitorais em detrimento das bases que garantiriam a continuidade do projeto, implementou o Bilhete Único - medida muito popular -, mas investiu pouco na infraestrutura e na tecnologia necessárias para a melhoria do sistema.
José Serra e seu sucessor Gilberto Kassab praticamente abandonaram o projeto. Neste ano, mais de R$ 70 milhões que haviam sido reservados para a construção de corredores e R$ 26 milhões orçados para reformas de terminais foram remanejados para pagamento de subsídios. Dos R$ 133 milhões destinados a melhorias no transporte público, a Prefeitura empenhou pouco mais de R$ 3 milhões.
Nos últimos anos, a insistência de Gilberto Kassab no congelamento da tarifa, por razões políticas, acabou provocando a degradação do sistema. Além do aumento dos subsídios, a cada sinal de descontentamento dos empresários do setor e representantes dos perueiros a Prefeitura abriu mão de algum tipo de controle sobre a qualidade dos serviços. Alterou regras de fiscalização e reduziu a obrigação contratual das viações de trocar veículos com mais de dez anos de uso. Prorrogou os contratos dos perueiros com a Prefeitura até 2013. Perdeu assim a oportunidade de reorganizar o transporte e acabar com a concorrência desleal imposta por perueiros que continuam trafegando pelos corredores de grande movimento por onde só as viações deveriam circular. Só quando o mal estava feito, Kassab passou a defender o reajuste anual da tarifa.
O sistema de transporte de São Paulo retrocedeu significativamente nos últimos anos. A última pesquisa realizada pela Associação Nacional de Transportes Públicos mostrou que, para 38% da população, a primeira medida a ser tomada para a melhoria dos transportes é a construção de corredores de ônibus, seguida da expansão das linhas de metrô. A população sabe que aquela medida é mais barata e mais fácil de ser executada no curto prazo. Sabe também que os principais beneficiados com as ações do prefeito têm sido os empresários do setor e os perueiros.
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