Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Mais dinheiro para as viações

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

A tarifa do sistema de ônibus em São Paulo será reajustada no início de 2011. Para reduzir o impacto negativo da medida, o prefeito Gilberto Kassab anunciou que o preço cobrado "deverá" atingir R$ 3,00. Diante da previsível irritação dos usuários do sistema, prometeu conceder desconto de aproximadamente dez centavos nas passagens, conforme anteciparam técnicos da Secretaria Municipal dos Transportes. Mesmo assim, no final das contas, o setor terá um reajuste bem acima da inflação projetada para este ano. E, contrariando a lógica de que o aumento de tarifa deve provocar redução no subsídio pago às empresas, a previsão dos repasses para as viações em 2011 já atinge R$ 742 milhões - neste ano, já foram gastos R$ 600 milhões. O relator do Orçamento Municipal do próximo ano, vereador Milton Leite (DEM), explicou que o aumento dos subsídios é necessário para fechar "o buraco do sistema de ônibus". Se os subsídios fossem a solução, o sistema de transporte de São Paulo seria um dos melhores do mundo. Em vez de encher os cofres das viações com recursos públicos, a Prefeitura deveria investir em corredores de ônibus, para dar maior velocidade ao sistema, e no controle da qualidade do atendimento prestado à população pelas concessionárias e cooperativas de perueiros. O transporte público sempre foi usado como bandeira eleitoral. Foi assim com o sistema integrado de transportes planejado pela ex-prefeita Marta Suplicy, único nos últimos anos a ter apoio dos especialistas em mobilidade urbana. O projeto assegurava a distribuição racional da frota e sua renovação, a criação de vias exclusivas para a circulação dos veículos de transporte público, tecnologia de ponta para o controle dos itinerários, velocidade e horários a serem cumpridos pelos ônibus e vans. E integrava, por meio do Bilhete Único, ônibus, vans, metrô e trens com tarifa mais justa.A sua própria autora, no entanto, falhou ao colocar o plano em prática. Priorizou o que lhe traria ganhos eleitorais em detrimento das bases que garantiriam a continuidade do projeto, implementou o Bilhete Único - medida muito popular -, mas investiu pouco na infraestrutura e na tecnologia necessárias para a melhoria do sistema.José Serra e seu sucessor Gilberto Kassab praticamente abandonaram o projeto. Neste ano, mais de R$ 70 milhões que haviam sido reservados para a construção de corredores e R$ 26 milhões orçados para reformas de terminais foram remanejados para pagamento de subsídios. Dos R$ 133 milhões destinados a melhorias no transporte público, a Prefeitura empenhou pouco mais de R$ 3 milhões. Nos últimos anos, a insistência de Gilberto Kassab no congelamento da tarifa, por razões políticas, acabou provocando a degradação do sistema. Além do aumento dos subsídios, a cada sinal de descontentamento dos empresários do setor e representantes dos perueiros a Prefeitura abriu mão de algum tipo de controle sobre a qualidade dos serviços. Alterou regras de fiscalização e reduziu a obrigação contratual das viações de trocar veículos com mais de dez anos de uso. Prorrogou os contratos dos perueiros com a Prefeitura até 2013. Perdeu assim a oportunidade de reorganizar o transporte e acabar com a concorrência desleal imposta por perueiros que continuam trafegando pelos corredores de grande movimento por onde só as viações deveriam circular. Só quando o mal estava feito, Kassab passou a defender o reajuste anual da tarifa.O sistema de transporte de São Paulo retrocedeu significativamente nos últimos anos. A última pesquisa realizada pela Associação Nacional de Transportes Públicos mostrou que, para 38% da população, a primeira medida a ser tomada para a melhoria dos transportes é a construção de corredores de ônibus, seguida da expansão das linhas de metrô. A população sabe que aquela medida é mais barata e mais fácil de ser executada no curto prazo. Sabe também que os principais beneficiados com as ações do prefeito têm sido os empresários do setor e os perueiros.