27 de abril de 2010 | 00h00
A acumulação de reservas tem custo. Para comprar dólares, a autoridade é obrigada a aumentar o volume de reais em circulação, com risco de pressão inflacionária, ou a emitir papéis, aumentando a dívida pública. Além disso, o governo só pode aplicar seus dólares em ativos da máxima segurança, que rendem menos que o custo da dívida. Quando o volume de reservas se aproximou de US$ 200 bilhões, intensificou-se a discussão sobre a conveniência de interromper a acumulação. Mas o BC manteve a política e seu acerto foi comprovado quando os efeitos da crise chegaram ao Brasil.
Talvez se pudesse obter o mesmo resultado com reservas menores, dirão os mais insistentes, mas nunca se poderá testar essa hipótese. Só há um fato bem determinado: quando a economia mundial tremeu, o crédito cessou e os investidores foram em busca de segurança, o BC estava preparado para atender às necessidades dos bancos e dos empresários brasileiros. Diante disso, a especulação diminuiu e em pouco tempo o nível de reservas era maior do que no começo.
Desde o ano passado, o FMI tem defendido menor acumulação de reservas pelos superavitários. A ideia tem sentido como parte da política de reequilíbrio mundial. O desequilíbrio envolve diversos países, mas seus atores principais são obviamente os EUA e a China.
Menor empenho na acumulação de reservas deve corresponder a um menor esforço para obtenção de superávits no comércio e nas transações em conta corrente. Em linguagem menos cifrada, a mensagem é simples: importem mais dos Estados Unidos e de outros deficitários e a economia mundial será melhor para todos. Se algum país entrar em dificuldades e precisar de reforço para suas contas cambiais, poderá dispor do apoio do FMI. Melhor, ainda, se o Fundo puder funcionar como um pool de reservas, ideia posta em circulação em outubro do ano passado, na reunião do FMI em Istambul.
Mas empréstimo do FMI não é substituto para reservas cambiais, disse o ministro Guido Mantega, num discurso em Washington. O problema, afirmou, é o estigma associado aos programas financiados pelo Fundo. Essa foi sua única alegação a favor da política de reservas como fator de segurança.
O argumento é um tanto rústico na forma e no conteúdo. México, Polônia e Colômbia receberam apoio financeiro do Fundo, sem condições, quando a crise se agravou. Usaram a linha de financiamento criada especialmente para países com boa reputação em política econômica. Nenhum deles ficou estigmatizado pelo auxílio recebido, no momento certo, do FMI.
Não é preciso recorrer a discursos de comício ou de centro acadêmico para defender a acumulação de reservas. A preocupação com a segurança é um argumento bastante forte, quando se leva em conta o quadro internacional. Têm ocorrido mudanças nos EUA e na China, mas nada garante a consolidação, a médio prazo, de um novo equilíbrio. Da mesma forma, ninguém sabe quando virá a esperada mudança cambial chinesa. Além disso, os fluxos de capitais continuam sendo um importante fator de risco num mundo já sujeito a muitas incertezas. Já se comprovou a conveniência de reservas elevadas. Para que mudar, se o mundo pouco mudou?
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