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Mais tensão nos mercados

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Por Redação
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Um surto de pessimismo varreu os mercados nessa segunda-feira, derrubando os preços de ações, o valor do euro e as cotações das matérias-primas, como se o mundo estivesse a um passo de mais um desastre financeiro. Más notícias sobre o desempenho econômico europeu somaram-se aos dados assustadores sobre o desemprego americano, divulgados na sexta-feira, e a rumores sobre rebaixamento da dívida italiana e de agravamento da situação do Tesouro grego, desde o ano passado à beira de um calote. A Bolsa de Frankfurt encerrou o pregão em queda de 5,28%. A de Milão caiu 4,83%. A de Paris, 4,73%. A de Londres, 3,58%. As bolsas americanas só foram poupadas por causa da comemoração do Dia do Trabalho nos EUA. A Bovespa foi arrastada pela onda de medo, enquanto o dólar subia no mercado brasileiro. A grande expectativa, agora, é em relação ao discurso do presidente Barack Obama previsto para quinta-feira. Ele deverá propor medidas para a criação de empregos, com novos investimentos em infraestrutura. O plano deve combinar ações imediatas de estímulo à economia com um programa de longo prazo para redução do endividamento federal. Se o presidente conseguir apoio para o aumento de gastos a curto prazo, os políticos americanos mandarão a todo o mundo um sinal animador. Se faltar esse apoio, crescerá o risco de uma nova recessão nos Estados Unidos, com repercussões em dezenas de países. O novo surto de pessimismo ganhou força na semana passada. As negociações com o governo grego para a liberação de uma nova parcela de financiamento foram interrompidas pelos enviados do FMI, do Banco Central Europeu (BCE) e da Comissão Europeia. Houve divergências sobre como tratar o déficit fiscal. Na sexta-feira saiu nos Estados Unidos o levantamento mensal sobre o mercado de trabalho. Somadas admissões e demissões, nenhum emprego urbano foi criado em agosto. Continuaram desocupados 9,1% dos trabalhadores. A notícia afetou imediatamente os mercados e continuou causando estragos na Ásia no começo desta semana. Ontem, o ministro da Economia da Itália, Giulio Tremonti, cancelou um compromisso no Norte do país, e correu para uma reunião ministerial em Roma. O mercado cobra do governo a versão definitiva de seu plano de arrumação fiscal, apresentado recentemente e já sujeito a mudanças. Ao mesmo tempo, avolumaram-se os rumores sobre rebaixamento da Itália pelas agências de análise de risco. A dívida italiana, informou a Moody"s nessa segunda-feira, está sob revisão para possível rebaixamento. Em junho, a Standard & Poor"s havia adicionado um sinal negativo à perspectiva da Itália.O custo do seguro contra calotes dos bancos e dos governos continua em alta na Europa. Enquanto isso, o BCE continua comprando títulos soberanos e fornecendo ajuda ao sistema financeiro. Na semana passada foram comprados papéis no valor de 13,3 bilhões. Ontem o BCE voltou a intervir, comprando bônus da Itália e da Espanha, segundo informações em circulação no mercado. Na sexta-feira, os depósitos overnight dos bancos privados no BCE atingiram 151,09 bilhões, um novo recorde. Os banqueiros preferem deixar o dinheiro nessa conta por causa das incertezas no mercado. Assim, os bancos deixam de financiar uns aos outros e todos se tornam mais dependentes da ajuda oficial. Os bancos europeus precisam de uma recapitalização de 200 bilhões, segundo estimativa do FMI. A Comissão Europeia recebeu mal essas estimativas. Segundo a Comissão, novos aportes aos bancos são desnecessários, agora. Mas dirigentes do setor financeiro são forçados a reconhecer a vulnerabilidade das instituições, quando avaliam, por exemplo, as carteiras de bônus soberanos. Muitos bancos seriam incapazes de absorver as perdas, se contabilizassem aqueles papéis pelo valor de mercado, admitiu o executivo-chefe do Deutsche Bank, Josef Ackermann. Mas uma recapitalização forçada é desnecessária, acrescentou. Esse tipo de conversa contribui certamente para o aumento da insegurança nos mercados.