Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Mais um rebaixamento

Exclusivo para assinantes
Por Redação
Atualização:
2 min de leitura

A presidente Dilma Rousseff acrescentou à sua lista de façanhas mais um rebaixamento do crédito soberano do Brasil. Agora o País está dois degraus abaixo do nível de investimento – reservado aos devedores confiáveis – na classificação das três maiores agências de avaliação de risco. Nas escalas da Standard & Poor’s e da Moody’s, a nota já havia caído até aquele ponto. A Fitch somou-se às outras duas na quinta-feira passada, ao anunciar o novo corte, agravado por uma “perspectiva negativa”. Outros países com a mesma nota são a Croácia, a Bolívia, o Paraguai e a Guatemala, com economias muito menores e menos industrializadas que a brasileira.

A maior parte desses companheiros de infortúnio tem demonstrado e continua a exibir desempenho bem melhor que o brasileiro. O Produto Interno Bruto (PIB) da Guatemala cresceu 4% no ano passado e um resultado igual está projetado para este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No caso da Bolívia, os números são 4,8% e 3,8%. O Paraguai aparece com 3% e 2,9%. A expansão chegou a 1,9% na Croácia, com perspectiva de 2,1% em 2016, depois de sete anos de recessão.

O contraste é forte: para o Brasil, ainda um dos maiores países emergentes, as projeções apontam recuo na faixa de 3,5% a 4% em 2016, depois de uma contração de 3,8% em 2015 e resultados muito modestos durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Segundo a Fitch, o rebaixamento reflete uma contração econômica maior que a prevista, a dificuldade do governo para melhorar a perspectiva das contas públicas, a continuada paralisia legislativa e a elevada incerteza política. “Esses fatores reduzem a confiança doméstica e prejudicam a governabilidade, assim como a eficiência das políticas públicas”, de acordo com a explicação.

A mudança de governo, admitem os especialistas da Fitch, poderá abrir caminho para ajustes e reformas importantes, mas é cedo para saber se o novo presidente conseguirá o apoio político necessário para tomar as medidas indispensáveis para a recuperação do País.

A cautela é compreensível. Os dados concretos, por enquanto, apontam um agravamento das condições do País. As contas públicas pioram dia a dia, com perspectiva de pelo menos mais um ano com déficit primário (sem os juros) superior a R$ 100 bilhões. O desemprego aumenta, inferniza mais de 11 milhões de trabalhadores e nada permite prever uma reversão em poucos meses. As contas externas ficam menos desequilibradas principalmente pela redução das importações, porque as vendas ao exterior continuam fracas.

Quanto à inflação, cedeu um pouco, nos últimos meses, basicamente por causa dos juros altos, do desemprego e da insegurança tanto de consumidores quanto de empresários. Com a paralisia dos negócios, os preços perdem um pouco do impulso. Mas é arriscado apostar até no efeito desinflacionário da crise.

Em abril a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), bateu em 0,61%, depois de um recuo para 0,43% em março. A taxa acumulada em 12 meses baixou de 9,39% para 9,28%, o menor número desde junho do ano passado, quando atingiu 8,89%. O repique havia sido mostrado pela prévia do mês, o IPCA-15. Segundo vários analistas, o recrudescimento seria passageiro, provocado principalmente pela alta de preços de alimentos, e a tendência de baixa seria retomada nos meses seguintes. Pode ser, mas isso continua incerto. A taxa anual deve permanecer muito alta por algum tempo, e as contas públicas, importante fator inflacionário, continuam seriamente desarranjadas.

A eventual mudança de governo pode realimentar a esperança, mas o desafio de arrumar uma economia afetada por enorme déficit governamental, dívida pública em alta, baixo nível de atividade, investimento escasso e inflação acima dos padrões internacionais continuará a desafiar as autoridades por longo tempo. Foi necessário um grande acúmulo de erros e desmandos para chegar a esse ponto. Não haverá saída fácil e indolor.