11 de abril de 2015 | 02h05
O anúncio da Fitch foi avaliado como positivo por analistas do mercado financeiro - mais um crédito de confiança. Um pouco mais ácido, ou menos entusiasmado, o gestor de um fundo de investimento falou em "benefício da dúvida". As três principais agências de classificação de risco - as outras duas são a Standard & Poor's (S&P) e a Moody's - mantêm o crédito soberano do Brasil no grau de investimento. O País continua, portanto, com o certificado de bom pagador, mas sob vigilância. Pelas notas da Fitch (BBB) e da Moody's (Baa2), o Brasil ainda poderá descer um degrau sem perder o selo de investimento. Mas as duas avaliações têm viés negativo, uma advertência nada desprezível. A nota da S&P, BBB- com perspectiva estável, está apenas um degrau acima do nível especulativo, isto é, dos emissores de títulos classificados como "junk", isto é, lixo.
A Moody's poupou o Tesouro de uma nota mais severa e prejudicial à sua credibilidade, mas em fevereiro derrubou a Petrobrás para o grau especulativo, por causa de seu endividamento (o maior do mundo), de seus problemas de caixa e especialmente do escândalo de corrupção. Dois meses depois do rebaixamento as investigações da Operação Lava Jato prosseguem, ainda se especula sobre a dimensão da lambança e a empresa continua devendo os balanços do terceiro e do quarto trimestres do ano passado.
Antes de apresentar seu relatório ao mercado, a estatal terá de convencer um escritório de auditoria a avalizar o documento. Há riscos na concessão desse aval, principalmente por causa da vigilância da comissão reguladora do mercado de capitais dos Estados Unidos. Até hoje, apesar das promessas de publicação do balanço até o fim de abril, há incerteza na companhia quanto à data, segundo o noticiário dos últimos dias. Se for preciso adiar de novo a divulgação das demonstrações financeiras, os diretores da empresa terão de negociar um prazo de tolerância com os credores, para evitar a cobrança antecipada de US$ 56,7 bilhões de dívidas.
A piora da imagem da Petrobrás já dificulta seu acesso ao mercado financeiro. Isso explica a tomada do empréstimo de US$ 3,5 bilhões de um banco estatal chinês pelo prazo de dois anos - operação destinada obviamente a resolver problemas de caixa. Os problemas de crédito da empresa podem contaminar o Tesouro, se o governo decidir socorrê-la financeiramente. Isso poderá comprometer a nota de crédito soberano, advertiram especialistas.
"O destino do Brasil é ter ratings cada vez mais altos", disse na quinta-feira o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas esse destino, se for confirmado, só se manifestará numa etapa razoavelmente distante. Por enquanto, a grande tarefa é manter a atual classificação do País, como admitiu o ministro, ao acrescentar: "Estamos preparando todas as ações para evitar um decréscimo do rating".
Levy tem conversado com políticos para obter apoio às medidas de ajuste e aos planos de reformas, ou, mais prosaicamente, para vencer resistências e tornar o caminho mais seguro. Não basta competência econômica e administrativa para a reparação dos danos causados por erros acumulados em muitos anos. O conserto requer, em primeiro lugar, muito arranjo político, principalmente porque o governo trabalhará, por mais de um ano, sob a ameaça de reclassificação dos papéis do Tesouro como lixo.
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