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Mais uma greve da Apeoesp

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Por Redação
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Menos de um mês depois do início do ano letivo, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) propôs aos seus filiados que entrassem em greve. Além de prejudicar o calendário escolar, a iniciativa converte mais uma vez os alunos e suas famílias em reféns das pretensões corporativas. Na primeira semana da greve, 59% da categoria teria cruzado os braços, segundo a Apeoesp. Nas contas do governo, 96% dos professores compareceram às aulas.A pauta de reivindicações da entidade é irrealista. Pede aumento de 75,33%, a pretexto de assegurar a equiparação salarial do professorado com as categorias do funcionalismo público com formação de nível superior. Exige mudanças nos critérios de contratação dos docentes temporários, transformação de bônus em reajuste salarial e a revogação da lei que disciplina as faltas por motivo de saúde. Também critica o rigor das perícias médicas, reclama do fechamento de classes, quer o desmembramento das salas superlotadas e pleiteia o máximo de 25 alunos por sala em todas as séries do ensino fundamental e do ensino médio. Cobra, ainda, maior rapidez na tramitação dos pedidos de aposentadoria. E, por fim, protesta contra o risco de falta de água nas escolas. A greve deflagrada pela Apeoesp tem objetivos políticos. A entidade, cujos dirigentes são em sua maioria vinculados ao Partido dos Trabalhadores, também está promovendo o que chama de "Operação Caça-Alckmin". A ideia é criar constrangimentos em todas as cidades que o governador visitar e em todos os eventos em que estiver, para pressioná-lo e desgastá-lo.O governo alega que tem adotado programas de valorização da categoria, tendo concedido ao professorado um aumento cumulativo de 45% nos últimos quatro anos. Com isso, o piso salarial do magistério paulista é 26% superior ao piso nacional. Quando a greve foi deflagrada, o governo estadual lembrou que os professores poderiam obter um reajuste salarial de 10,5%, graças ao programa de valorização do mérito ou por prática pedagógica, e de mais 5%, por meio de qualificações adquiridas durante a carreira no magistério público. Também informou que o custo médio da folha de pagamento dos professores é de mais de R$ 8 bilhões por ano.A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, refutou a informação, alegando que os 45% de aumento acumulados nos últimos quatro anos não representariam recomposição das perdas salariais causadas pela inflação. "Uma parte foi incorporação de gratificações", afirmou. Também reclamou que os aumentos de 10,5% por conta de mérito e de 5% por evolução na carreira só beneficiariam cerca de 10 mil dos 230 mil professores da rede pública do ensino fundamental e médio.O governo estadual reagiu, anunciando que, nos próximos dias, será pago o maior bônus por desempenho da história da rede pública estadual. O valor será de R$ 1 bilhão - cerca de 42% a mais do que foi pago em 2014 - e beneficiará todos os docentes. "O recorde de pagamento é proporcional à melhora do aprendizado, registrada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp). A rede alcançou o melhor índice dos últimos cinco anos", afirma o secretário de Educação, Herman Voorwald.Apesar desse bônus, a greve liderada pela Apeoesp não tem data para acabar. A entidade afirma que o governo estadual ainda não abriu negociações, apesar de sua presidente já ter pedido quatro audiências ao governador Geraldo Alckmin. A recorrência das paralisações lideradas pela Apeoesp é o resultado de uma equação cujos elementos são conhecidos. Por interesses corporativos, a entidade rejeita medidas fundamentais para a melhoria do sistema de ensino, como fixação de metas de produtividade e avaliação de mérito para a concessão de benefícios e reajustes salariais. E, por oportunismo político, a entidade recorre a reivindicações irrealistas como pretexto para fazer passeatas e criar dificuldades para o governo estadual.