Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Mais uma invasão da Reitoria

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Por Redação
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Armados com porretes, marretas, placas de trânsito e pés de cabra, cerca de 400 alunos e servidores da Universidade de São Paulo (USP) invadiram as dependências da Reitoria da instituição, pichando paredes, quebrando portas de vidro e queimando uma bandeira. E depois de tentarem - sem sucesso - arrombar as portas do Conselho Universitário, cujos integrantes discutiam a sucessão do reitor João Grandino Rodas, cujo mandato vence dentro de quatro meses, anunciaram uma greve por tempo indeterminado. O pretexto para essa demonstração de truculência e vandalismo foi a reivindicação de eleição direta para reitor, vice-reitor, diretores de faculdades e chefes de departamento. "A gente escolhe até o presidente da República, por que não podemos escolher o reitor da USP, que é pública?", disse Luísa D'avola, aluna do curso de Letras e dirigente do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Além disso, os invasores querem mudar radicalmente a administração da USP. Eles defendem a adoção de um sistema de gestão tripartite integrado por um aluno, por um funcionário e por um professor, eleitos por voto paritário e com mandatos revogáveis por decisão de assembleias universitárias. Também exigem a dissolução do Conselho Universitário, o principal órgão deliberativo da USP. E querem a imediata convocação de uma "estatuinte livre e soberana" para elaborar, "democraticamente", um novo Estatuto e um novo Regimento Geral. Proposta pelas microfacções de extrema esquerda que controlam o movimento estudantil e as entidades sindicais dos servidores administrativos, a pauta de reivindicações é delirante e tem escasso apoio nos dez campi da USP. E é justamente porque carecem de representatividade que essas facções - o Movimento Negação da Negação, a Liga Estratégica Revolucionária e grupelhos ligados ao Partido da Causa Operária, ao PSTU e ao PSOL - recorrem à violência gratuita e às ocupações para chamar a atenção da mídia e causar a falsa impressão de que há uma revolução em curso na maior instituição de ensino superior do País.As ocupações da Reitoria da USP passaram, nos últimos anos, a ocorrer tão regularmente quanto as datas festivas do calendário. O "invasionismo" se caracteriza por métodos fascistas de intimidações e agressões. Grupelhos de esquerda insistem na democracia direta, mas a violência espetaculosa e ilegal que praticam nas suas invasões é a negação de qualquer diálogo. O script é conhecido. Além de possibilitar boas imagens para fotógrafos e cinegrafistas, as pichações, depredações e ocupações obrigam as autoridades universitárias a bater nas portas do Poder Judiciário, impetrando ações de reintegração de posse. Quando a polícia chega para cumprir determinações judiciais, preservar o patrimônio público e restabelecer a ordem, os invasores - tentando assemelhar-se ilegitimamente com os grupos que lutaram contra o regime militar, nas décadas de 1960 e 1970 - apresentam-se como vítimas da opressão e mártires da liberdade. E, se eventualmente sofrem alguma punição, afirmam que as sanções administrativas - como advertência, suspensão e expulsão - são as previstas pelo Decreto n.º 52.906, editado nos tempos da ditadura - e, portanto, ilegítimas -, e acusam os dirigentes universitários de "criminalizar" o movimento estudantil e os líderes sindicais dos servidores.Quando pedem eleições diretas e gestões tripartites e paritárias, essas facções minoritárias de esquerda radical se esquecem - por conveniência ideológica - de que a USP não é propriedade de quem nela estuda ou trabalha. Com 92 mil alunos e 5,8 mil professores, ela é um patrimônio cultural da Nação e da sociedade, que foi construído com muito sacrifício e dedicação ao longo de mais de sete décadas. A USP tem de ser gerida de forma responsável, com base no princípio do mérito e da excelência acadêmica. Não se pode mais tolerar ocupações e outras ações ilegais praticadas por grupos minoritários engrossados por militantes políticos dentro e fora da universidade.