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Maus sinais da inflação

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Por Redação
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Levar a inflação à vizinhança de 7% até o fim do ano, como se prevê no mercado, ainda vai dar muito trabalho, mesmo num ambiente de recessão, com retração do consumo e baixo nível de investimento em construções, máquinas e equipamentos. A alta de preços voltou a ganhar impulso tanto no varejo quanto no atacado, como apontam os últimos números divulgados tanto pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) quanto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado mais novo, anunciado ontem pela FGV, mostrou a aceleração recente do IGP-M, o Índice Geral de Preços – Mercado. De abril para maio, a taxa mensal mais que dobrou, passando de 0,33% para 0,82%. Esse indicador foi apurado entre 21 de abril e 20 deste mês.

Um forte sinal de repique da alta geral de preços havia aparecido alguns dias antes, quando o IBGE publicou o IPCA-15, medido entre a segunda quinzena de um mês e a primeira do mês seguinte. Esse número serve habitualmente como prévia do Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo governo e pelo Banco Central (BC) para a definição de metas e de políticas. O IPCA-15 de maio subiu 0,86%. No mês anterior havia aumentado 0,51%. A variação acumulada em 12 meses passou de 9,34% para 9,62%.

A piora do quadro foi confirmada com a divulgação do IGP-M. Esse indicador é formado por três conjuntos de preços – ao produtor, com peso de 60%; ao consumidor, com peso de 30%; e do custo da construção, com participação de 10%. Os dois primeiros mostraram claramente uma nova aceleração de aumentos. A alta dos preços ao produtor – no atacado, portanto – passou de 0,29% em abril para 0,98% em maio. A subida mais veloz foi observada tanto nos bens industriais quanto nos agropecuários, prenunciando mais pressões, nos próximos meses, sobre os preços no varejo. A variação dos preços ao consumidor acelerou-se de 0,39% para 0,65%. As taxas foram maiores que as do mês anterior em cinco das oito classes de despesas. O quadro geral piorou mesmo com aumento pouco menor do custo da alimentação (de 0,85% para 0,77%), o item de maior peso no orçamento familiar usado como referência.

Embora os sinais de repique sejam conhecidos há algumas semanas, o mercado continua apostando num resultado oficial bem abaixo dos 10,67% do ano passado. Mas as previsões são mais cautelosas do que eram há cerca de um mês. Em quatro semanas passou de 6,94% para 7,06% a mediana das projeções do mercado para a variação do IPCA em 2016. A estimativa para o próximo ano caiu de 5,72% há um mês para 5,50%. O cálculo de 5,50%, mantido nas duas últimas semanas, ainda aponta um resultado acima da meta (4,5%) em 2017. Pelas previsões das cinco instituições com mais acertos, a taxa ainda estará em 4,84% em 2020. Essas avaliações são coletadas pelo BC em consulta a uma centena de instituições de mercado e compõem a pesquisa Focus, publicada semanalmente.

A divulgação do IPCA de maio, no começo de junho, certamente mostrará um cenário pior que o conhecido um mês antes. A intensificação da alta de preços tem ocorrido em vários segmentos de negócios e vem sendo observada tanto no varejo quanto no atacado.

Há, portanto, motivos para cautela na condução da política anti-inflacionária. Esses dados serão analisados pelos componentes do Comitê de Política Monetária (Copom) e levados em conta em sua próxima reunião, marcada para os dias 7 e 8 de junho. O comitê é formado por diretores do BC. Tudo indica, por enquanto, a manutenção dos juros básicos em 14,25% pelo menos até a reunião seguinte, prevista para 19 e 20 de julho. Nessa época o novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, deverá ter assumido completamente suas funções. É cedo para dizer como ele tentará orientar a política monetária. Mas pelo menos uma previsão é segura: enquanto houver incerteza quanto à correção das contas públicas, qualquer afrouxamento da política monetária será muito arriscado.