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Maus sinais nas contas externas

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Por Redação
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O comércio exterior vai mal, a exportação continua emperrada e o Banco Central (BC) diminuiu de US$ 8 bilhões para US$ 5 bilhões o saldo comercial projetado para este ano. Além disso, o investimento estrangeiro direto, US$ 66,53 bilhões nos 12 meses terminados em maio, continua insuficiente para cobrir o buraco na conta corrente do balanço de pagamentos, US$ 81,85 bilhões no mesmo período. Nem os comentários mais otimistas do chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, tornaram o quadro menos feio. O financiamento do déficit, segundo ele, continua confortável. A parcela coberta pelo investimento direto, acrescentou, "continua sendo de 80%". Mas há dois anos esse tipo de recurso era mais que suficiente para compensar o rombo. O cenário piora e, na falta de solução mais satisfatória, o discurso se adapta às novas circunstâncias.Para o ano, o BC mantém a projeção de um déficit de US$ 80 bilhões em conta corrente. Para o investimento direto a expectativa é de US$ 63 bilhões. A diferença será coberta, como no ano passado, por outras aplicações, mais especulativas, mais instáveis e, portanto, menos seguras.O quadro seria ruim mesmo sem a perspectiva de um mercado financeiro menos favorável. A redução de incentivos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já afeta as condições internacionais de crédito e encarece o capital. Além disso, juros mais altos têm geralmente como contrapartida preços menores para as commodities. Também esse efeito é prejudicial ao comércio exterior brasileiro, muito dependente de exportações de produtos básicos.O efeito dessa queda de preços foi mencionado pelo economista Túlio Maciel na entrevista sobre as contas externas de maio. Apesar da menor receita de exportação, o déficit comercial diminuiu no mês passado e o saldo ainda poderá melhorar nos próximos meses. Mas nem essa expectativa reflete, de fato, uma visão mais positiva das condições econômicas do País.A revisão do saldo comercial projetado para 2014 envolveu mudanças tanto da receita quanto da despesa. O valor esperado para a exportação passou de US$ 253 bilhões para US$ 245 bilhões, enquanto o gasto previsto com a importação diminuiu de US$ 245 bilhões para US$ 240 bilhões. Trata-se, portanto, de uma redução da corrente de comércio.Essa redução é atribuída tanto às condições do mercado internacional, com preços menores para as commodities, quanto à deterioração da economia interna. O crescimento menor, no Brasil, tem contribuído para conter o déficit nas transações externas, observou o economista. Esse efeito é visível tanto na redução das importações de bens quanto na diminuição dos gastos com os serviços de transportes - em linha, segundo ele, com o menor fluxo comercial. Em outras palavras: o baixo nível de atividade tem freado as importações de mercadorias e os gastos com certos serviços. De janeiro a maio o valor exportado, US$ 90,06 bilhões, foi 3,46% menor que o de um ano antes. A despesa com importação, US$ 94,92 bilhões, foi 3,80% inferior à dos meses correspondentes de 2013.No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) foi apenas 0,2% maior que nos três meses finais do ano passado e isso, de acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, ajudou a reduzir o desequilíbrio comercial. Faltou dizer: a estagnação econômica está gerando, nas contas externas, um efeito semelhante àquele provocado intencionalmente por um ajuste recessivo.Mas políticas de ajuste são aplicadas intencionalmente e a recessão é um custo previsível. No caso atual, o crescimento quase nulo é consequência de erros cometidos pelo governo. Uma política consciente de ajuste serviria também para derrubar a inflação. No Brasil, a alta de preços continua resistente, nem o BC prevê a convergência para a meta, 4,5%, nos próximos 12 meses.Nesse quadro, até a lenta melhora do saldo comercial soa como notícia ruim: é mais um sintoma de uma economia cada vez mais frágil e desarticulada, produto de uma longa acumulação de erros políticos.