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Maus sinais no emprego

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Por Redação
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Com poucas vitórias econômicas para exibir em seu currículo, a presidente Dilma Rousseff e sua trupe têm explorado como pontos positivos a criação de empregos e a desocupação bem menor que em boa parte do mundo rico. A maior parte do emprego é de baixa qualidade e baixa produtividade. Apesar disso, tem sido suficiente para manter a massa de consumidores com um respeitável poder de compra. Mas o governo está arriscado a perder até esses argumentos promocionais. Depois de dois anos e meio de estagnação industrial e de inflação alta, a economia começa a gerar menos empregos. Os trabalhadores há algum tempo dão sinais de preocupação diante das condições do mercado de trabalho e da evolução dos preços. O discurso oficial pode continuar exaltando os feitos, na maior parte imaginários, de dez anos e meio de administração petista. Mas a retórica dificilmente restabelecerá a confiança em uma política fracassada. As novas más notícias sobre o emprego vieram de duas fontes oficiais e apareceram em dois dias consecutivos. Na terça-feira, o Ministério do Trabalho divulgou os números de junho do emprego formal, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado do mês, de 126.836 novos contratos, foi pouco melhor que o de maio, de 120.440, mas o total do semestre (826.168) ficou 21,2% abaixo do computado nos primeiros seis meses de 2012. Foi o pior balanço depois da primeira metade de 2009, quando o País começava a sair da recessão iniciada nos meses finais de 2008. Além disso, quase metade dos novos empregos de junho (59.019) foi aberta no setor rural, ainda como efeito do bom desempenho da agricultura, de longe o setor mais competitivo da economia brasileira e o mais resistente aos problemas internos e externos. Cálculos refeitos com ajustes sazonais por economistas do Bradesco reforçam a ideia de enfraquecimento do mercado. Segundo essas contas, a média mensal de geração de empregos formais caiu de 64 mil no primeiro trimestre para 53 mil no segundo. A segunda má notícia oficial foi distribuída na quarta-feira pelo IBGE e refere-se à evolução do quadro em seis das maiores áreas metropolitanas do País. Segundo essa pesquisa, o desemprego chegou a 6% em junho. Era de 5,8% no mês imediatamente anterior e 5,9% em junho do ano passado. O rendimento médio real dos trabalhadores ocupados caiu 0,2% de maio para junho, mas permaneceu 0,8% superior ao de um ano antes. A massa de renda real habitualmente recebida ficou estável de um mês para outro e cresceu 1,5% na comparação com junho de 2012. Mas o crescimento desse bolo tem sido afetado sensivelmente pela inflação. A comparação da média do primeiro semestre deste ano com o do ano anterior mostra um aumento de 2,7%. Houve uma clara deterioração no segundo trimestre e isso se reflete na piora do humor dos consumidores. De modo geral, os novos números do IBGE mostram uma estagnação do mercado de emprego. Em maio e junho o nível de ocupação ficou estável em 53,7% da população ativa. No primeiro semestre, a média foi de 53,9%, muito parecida com a de um ano antes, de 53,7%. Mas o quadro fica mais feio quando se observa a qualidade da ocupação. Em junho, o número de empregados na indústria foi 3,3% menor que em maio. A mesma diferença foi observada em relação a junho de 2012. Nessa época, no entanto, o emprego industrial estaria normalmente em alta, segundo observou o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Azeredo. Dados de entidades da indústria também têm mostrado a deterioração do emprego no setor. A tendência é recente. Até há pouco os dirigentes industriais preferiram preservar o pessoal, motivados pela expectativa de uma reativação próxima. As demissões no setor, especialmente no segmento de transformação, confirmam o agravamento da crise de confiança. Essa crise atinge, agora, o mercado de emprego. É mais uma comprovação do fracasso da política baseada na gastança e no estímulo ao consumo.