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Melhorar o serviço de ônibus

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Por Redação
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Por não ter sido acompanhado pelo crescimento da frota, o aumento do número de passageiros de ônibus na cidade de São Paulo nos últimos anos pode ter resultado em piora da qualidade do serviço para os usuários de determinadas linhas. É natural que se estenda esse raciocínio para todo o serviço de ônibus da capital, mas isso pode levar a interpretações equivocadas.O que a experiência mostra - e engenheiros especializados em tráfego e transporte urbano de passageiros ressalvam - é que mais ônibus não significam necessariamente serviços melhores e mais conforto para os usuários. O simples aumento da frota pode ter resultado contrário ao esperado: por agravar os problemas de trânsito na cidade, torna as viagens mais demoradas. Os ônibus ficam mais cheios e os usuários sentem ainda mais desconforto. Para melhorar os serviços, o importante é aumentar sua eficiência, medida principalmente pela velocidade média dos veículos.Como mostrou reportagem publicada pelo Estado (19/1), entre 2007 e 2011, o número de pessoas transportadas por ônibus na cidade aumentou 7,6%. Em números absolutos, isso significa que, por dia, mais 570 mil pessoas passaram a utilizar esse meio de transporte. Já a frota de ônibus em operação permaneceu a mesma. Ela era formada por 14.911 veículos em 2007 e por 14.908 no ano passado. A tarifa, mesmo subsidiada pela Prefeitura (no ano passado, as empresas de ônibus receberam R$ 520 milhões em subsídios), aumentou 30% no período. Paga-se mais por um serviço pior?A São Paulo Transportes (SPTrans), autarquia municipal responsável pela gestão do sistema de transporte por ônibus na capital, argumenta que, se não aumentou, a frota melhorou, com sua renovação. Segundo a SPTrans, entre 2005 e 2011, 80% da frota foi renovada e, como muitas unidades foram substituídas por outras maiores, articuladas ou biarticuladas, aumentou a oferta de assentos. Além disso, a autarquia assegura que vem trabalhando "para aumentar a velocidade média dos ônibus". Em termos práticos, conforme sua própria avaliação, isso "equivale à inclusão de 2.200 ônibus".Facilitar o deslocamento dos ônibus é, de fato, uma das medidas mais importantes para aumentar a eficiência do sistema. A velocidade média dos ônibus é mais importante do que o número de veículos em operação. Circulando a velocidades médias maiores, os ônibus não só reduzem o tempo de viagem, e assim oferecem mais conforto aos passageiros, como podem realizar mais viagens num determinado período, o que, na prática, equivale a aumentar a frota.A questão é como facilitar a circulação de ônibus numa estrutura viária que pouco se expande e está cada vez mais saturada pelo contínuo crescimento da frota de veículos de passageiros e de carga. É preciso que as autoridades da área de tráfego e transportes mantenham, na prática, a prioridade assegurada ao transporte público de passageiros.Em termos práticos, isso requer uma rigorosa fiscalização da circulação dos ônibus para verificar se eles cumprem os horários, como observou o mestre em engenharia de transporte Sergio Ejzenberg. Quanto ao sistema viário, a prioridade para o transporte público significa a criação de mais corredores de ônibus, "coisa que essa administração não fez", na opinião do engenheiro de transporte e professor da USP Jaime Waisman.Criticada, a Prefeitura defende-se, informando que está licitando os corredores da Radial Leste e da Avenida Luís Carlos Berrini, além do Binário Santo Amaro, projeto de interligação dos corredores de ônibus que atendem a região sul da cidade, a serem integrados no Terminal Santo Amaro.A Prefeitura argumenta também que, na área de transporte público, investiu R$ 1 bilhão no metrô. A expansão dos serviços do metrô é a solução de médio e de longo prazos para atender à demanda da cidade. Quando São Paulo dispuser de uma rede adequada de metrô, os ônibus serão serviços auxiliares. Por enquanto, porém, eles são essenciais. No ano passado, transportaram 2,94 bilhões de passageiros.