
23 de maio de 2010 | 00h00
Chamou a atenção o contraste entre as projeções internas otimistas com relação ao aumento do PIB e do consumo e a cautela dos analistas: para os 152 especialistas de 17 países ouvidos sobre a situação atual e as expectativas para seis meses adiante, o ICE brasileiro ainda é favorável, mas já sugere que será difícil sustentar uma situação de expansão econômica, com um crescimento do PIB da ordem de 7%.
A economista e professora da FGV Lia Walls Pereira buscou uma explicação para o resultado da pesquisa: os analistas estariam acreditando que a economia brasileira teria chegado ao "pico" e, portanto, de agora em diante terá dificuldades para melhorar mais. "Acho que essa piora tem que ser um pouco qualificada, pois tivemos ótimas avaliações sobre o momento presente na economia, e isso pode ter influenciado as perspectivas futuras dos analistas quanto ao Brasil", disse ela. Mas, "se tudo estivesse bem, as expectativas não teriam caído".
A pesquisa, feita antes da crise da Grécia, mostrou que a América Latina é uma das regiões que melhor se saíram da recessão. Mas a tendência, em abril, foi mais positiva no Peru, no Uruguai, na Colômbia e na Bolívia. O Paraguai manteve o ICE de janeiro e encontra-se em boa fase. O Brasil, o Chile (afetado pelo terremoto), a Argentina (vítima do populismo), o Equador e a Venezuela puxaram o indicador para baixo.
O Brasil, segundo o ICE, continua a ter grandes problemas, tais como escassez de mão de obra qualificada e déficit público crescente, além de baixa competitividade. Esta também foi citada em pesquisa da faculdade suíça IMD e da Fundação Dom Cabral e atribuída à legislação defasada, alta carga tributária, ausência de marcos regulatórios e burocracia excessiva para abrir empresas.
O melhor, portanto, será dar menos importância aos resultados imediatos, pois a piora das percepções quanto ao desenvolvimento futuro é sinal de que o clima de euforia não terá vida longa e, ademais, pode pôr a perder a estabilidade do real.
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