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Menor queda da Selic agrada ao governo

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Por Redação
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A expectativa em torno da decisão que será tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) mudou de repente: o mercado considera que as autoridades monetárias optarão por uma redução de 1 ponto porcentual da Selic, e não de 1,5 ponto. Uma redução em ritmo menor tem sua explicação em vários fatores e não desagrada ao governo. Recentemente, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ponderou que há um excesso de otimismo no País. Provavelmente se referia à estimativa oficial de crescimento do PIB ? maior do que a do Banco do Brasil ?, mas também à expectativa de inflação, que pode aumentar em razão de uma demanda doméstica pouco afetada pela crise e sustentada pelas transferências governamentais. Essa posição do presidente do BC aconselha cautela em torno da decisão do Copom. A pesquisa Focus já reflete essa cautela: há uma semana previa uma Selic em fim de abril de 9,75%; ontem elevou sua previsão para 10,25%, enquanto o IPCA passava de um aumento de 0,30% para 0,42% no mês. O aumento do déficit público e a decisão de reduzir o superávit primário deste ano ? o que significa um crescimento das necessidades de financiamento e um aumento da dívida pública ? começam a preocupar os analistas do mercado, ao mesmo tempo que o crescimento da demanda doméstica, apesar do desemprego e da inadimplência, gera dúvidas. Todos esses fatores suscitam a conclusão de que a redução da Selic não será tão rápida quanto se imaginava. Ora, o que parece importante é que no governo, que tanto propugnou pela redução da taxa básica de juros, um afrouxamento do seu ritmo de redução é hoje mais bem aceito. Essa aceitação (que nunca será oficial) tem duas explicações principais. Uma está vinculada à perspectiva da necessidade de aumentar a colocação de títulos do governo, que em parcela importante estão vinculados à taxa Selic. Uma redução contínua dessa taxa poderia afetar as aplicações em papéis prefixados. Parece que o mais interessado nesse afrouxamento seria o presidente da República, que assim pode adiar uma decisão que certamente não lhe agrada: a de reduzir a rentabilidade das aplicações em caderneta de poupança. Se a Selic cair abaixo de 9%, seria obrigatório reduzir a remuneração da poupança. Assim, o BC presta-lhe um grande serviço mantendo a Selic acima de 9%, situação que parece bastante paradoxal.