11 de março de 2012 | 03h10
Certamente a alta dos preços dos alimentos, a alta dos combustíveis e a crise financeira dos últimos anos afetaram a vida das populações mais vulneráveis do planeta e desaceleraram o ritmo de redução da pobreza, mas, como constatou um estudo recentemente lançado pelo Banco Mundial (Bird), ela continuou a diminuir.
De acordo com estatísticas preliminares correspondentes a 2010, a proporção da população vivendo em condições de pobreza extrema - pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia - se reduziu para menos da metade do nível observado em 1990. Isso significa que, das Metas de Desenvolvimento para o Milênio fixadas pela ONU para serem alcançadas até 2015, a primeira delas - a redução pela metade da pobreza extrema no mundo - foi cumprida com cinco anos de antecedência.
É um quadro bem diferente do que havia traçado o próprio Banco Mundial no fim de 2008, pouco depois do início da crise global. "O desemprego está aumentando nos países industrializados e a pobreza deve aumentar nos países de renda baixa e média, trazendo consigo uma deterioração substancial nas condições de vida enfrentadas pelas pessoas em situação mais vulnerável", previu então o Bird, como lembrou reportagem do jornal The New York Times reproduzida pelo Estado (8/3).
As crises anteriores nos países ricos espalharam seus efeitos pelo resto do mundo, sem exceção. Desta vez, porém, as consequências mais agudas são observadas nos EUA e em parte da União Europeia, cujas economias se debatem numa longa recessão. Elas não chegaram aos países em desenvolvimento, ou chegaram bastante mitigadas. "Trata-se de ótimas notícias para todos os envolvidos, pois o crescimento nos países em desenvolvimento também ajuda os países desenvolvidos", disse o pesquisador Charles Kenny, do Centro para o Desenvolvimento Global, ao New York Times.
O estudo do Bird mostrou que, entre 2005 e 2008, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza diminuiu em todas as regiões do mundo em desenvolvimento. Em 1981, 52% da população do planeta vivia com menos de US$ 1,25 por dia; hoje, 22% estão na pobreza extrema. Pela primeira vez desde 1981, quando o Bird começou a divulgar estatísticas sobre o problema, a proporção da população da África Subsaariana vivendo na pobreza extrema ficou abaixo de 50%. O índice de pobreza nessa região aumentou na década de 1990 e, em 2002, ainda se mantinha em 55,7% da população. Em 2008, havia baixado para 47,5%
Nos últimos anos, a redução do número de pobres decorreu do crescimento expressivo de países com grandes populações, como China, Índia e Brasil. O alto preço das commodities, sobretudo as agrícolas, bem como as condições de mercado e o fluxo de investimentos para os mercados emergentes igualmente contribuíram para melhorar o quadro social nos países em desenvolvimento.
É um quadro melhor do que se previa há alguns anos, mas é preciso examiná-lo com ressalvas. Mesmo que, entre 2005 e 2008, 663 milhões de pessoas tenham deixado de viver em condições de pobreza extrema, essa população continua pobre. Além disso, como observou o diretor do grupo do Bird responsável pela redução da pobreza, Jaime Saavedra, "é intolerável que 22% das pessoas não alcancem o limite de pobreza de US$ 1,25 por dia e 43% vivam com menos de US$ 2 por dia". A pobreza diminuiu, mas continua sendo um problema grave.
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