15 de julho de 2014 | 02h05
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram indicadores de comportamento. Segundo eles, o número de transeuntes que atravessam ruas fora da faixa de pedestres manteve-se alto, mas no mesmo nível, de 2013 para cá: 72%. Mas todos os outros subiram em um ano: quem compra CDs ou DVDs piratas passou de 60% para 63%; quem incomoda vizinhos fazendo barulho, de 36% para 40%; quem joga lixo ao léu, de 18% para 29%; quem estaciona em local proibido, de 22% para 23%; quem usa carteira de estudante falsa para pagar meia-entrada, de 5% para 9%; quem admite ter subornado algum funcionário público, de 3% a 6%; e quem leva itens baratos de uma loja sem pagar, de 3% para 5%. Fumar em locais proibidos foi a infração que mais cresceu neste último ano: de 5% para 12%. E, apesar do endurecimento da lei seca e do aumento de fiscalização em algumas cidades, caso do Rio de Janeiro, quem dirige automóvel após ingerir bebida alcoólica, que representava 14% no ano passado, agora atingiu a proporção de 17%.
A reportagem de Victor Vieira, publicada no Estado, revelando a pesquisa com exclusividade, cita o exemplo da agente de viagens que adotou o pseudônimo de Cristina para não se prejudicar com a declaração. Depois de beber, ela dirigiu e, sem ter carteira de habilitação, colidiu contra uma placa. "Você faz uma, duas, três vezes. Como não acontece nada, relaxa", disse. Felizmente o acidente não feriu ninguém, e ela garantiu que não reincidirá. Um arquiteto, de 24 anos, confessou que usa carteira de estudante adulterada, argumentando que estudava, mas trancou a matrícula na escola. Além disso, admitiu que baixa séries de TV pela internet e incomoda vizinhos ouvindo música em volume muito alto. Ele acha que há leis que "fogem da realidade das pessoas". E transferiu a própria culpa para quem devia dar exemplo e não dá. "Se a figura pública não é punida, por que isso acontecerá com quem comete delitos menores?", defendeu-se.
De acordo com os especialistas que fizeram a pesquisa, há uma relação direta entre a redução da percepção do cumprimento da lei e a queda generalizada da confiança nos governantes, nos poderes e nos aparelhos do Estado. Para a professora da Direito GV Luciana Gross Cunha, as "instituições políticas e representativas não souberam responder aos protestos" de junho de 2013. Ela acha que o descaso do cidadão quanto ao cumprimento das normas legais também resulta do pessimismo em relação à (falta de) ação das autoridades. Segundo a pesquisa, a confiança nas Forças Armadas, a mais alta no ano passado (de 60%), subiu ainda mais - para 64%. A Igreja Católica, o Ministério Público, a imprensa, as grandes empresas e as emissoras de TV foram consideradas mais confiáveis do que a polícia (que manteve o índice de 30%). O Poder Judiciário, o governo federal e o Congresso Nacional tiveram seus índices rebaixados. E os partidos políticos mantiveram o último lugar, com 7% de confiabilidade.
Se os políticos acham que o refluxo das manifestações representou um aval para continuarem fazendo mais do mesmo, podem estar enganados.
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