
25 de outubro de 2012 | 03h07
No mesmo pronunciamento o presidente do BC rejeitou a ideia de redução da meta, mantida há vários anos em 4,5%. É desejável, segundo ele, aproximar a inflação brasileira dos níveis observados em seus parceiros comerciais, mas é preciso, acrescentou, deixar esse objetivo para mais tarde. Não é hora de baixar a meta, argumentou, por causa da crise internacional. Por enquanto, é preciso, segundo Tombini, esperar para ver se as políticas adotadas no mundo desenvolvido farão subir a inflação nos mercados globais. Ele se referia, claramente, a medidas de expansão monetária tomadas nos Estados Unidos e em outros países ricos para reativar os negócios.
Há pouco mais de um ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou a redução dos juros. Segundo a justificativa apresentada na época, a crise internacional derrubaria os preços das commodities e teria um efeito desinflacionário. Esse argumento foi repetido recentemente. O presidente do BC, agora, usa o argumento oposto - o risco de mais inflação externa - para defender a manutenção da meta. Quanto aos juros, devem ser intocáveis, exceto, é claro, para alguma nova redução. A presidente da República, inspiradora da nova política, muito provavelmente aplaudirá mais um corte.
Mas até o discurso de preservação da meta de 4,5%, em nome da prudência, é pouco digno de crédito, quando se examinam os resultados e as condições da política monetária. A inflação oficial ficou no fim de 2011 em 6,5%, no limite superior da banda fixada pelas autoridades. Continuará acima de 5% neste ano e provavelmente ainda estará longe do centro do alvo em 2014, de acordo com projeções divulgadas pelo próprio BC. A promessa de uma convergência em "trajetória não linear", repetida nos últimos tempos pelas autoridades monetárias, parece cada vez mais uma conversa digna de Cantinflas, o romântico e enrolador vagabundo das velhas comédias do cinema mexicano.
Os padrões da política monetária brasileira admitem há muito tempo, como lembrou o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, alguma tolerância à inflação quando é preciso enfrentar uma crise. Mas a taxa de 4,5%, há muitos anos mantida como centro da meta, é muito mais alta que a inflação registrada em países também expostos às pressões internacionais e, apesar de tudo, com desempenho econômico bem melhor que o do Brasil. E há mais que isso. "Quando a meta não foi cumprida em 2011, não será cumprida em 2012 e há expectativa de que também não seja atingida em 2013 e 2014, para que essa meta?", perguntou Loyola numa entrevista ao Estado.
A resposta parece inevitável. Derrubar a inflação é hoje um objetivo secundário para o governo, embora outros países cresçam mais com uma inflação mais baixa. A prioridade efetiva é a redução dos juros, tomada como indispensável para um maior crescimento da produção. Mas o consumo tem aumentado, apesar dos juros, e a indústria tem sido incapaz de acompanhar essa demanda. O governo está obviamente atirando no alvo errado e balas perdidas acabarão causando sérios estragos na economia.
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