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Montadoras querem exportar

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Por Redação
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As montadoras de veículos instaladas no País não reclamam da importação de automóveis, que custaram US$ 8,68 bilhões de janeiro a novembro do ano passado, segundo os dados oficiais da Secex. Se há compradores brasileiros que podem pagar o preço de carros fabricados no exterior, muitos deles por indústrias com subsidiárias do Brasil, esse não é assunto que preocupe o setor. As montadoras se ressentem é da queda acentuada das exportações brasileiras de automóveis. Em 11 meses de 2012, as vendas externas de veículos pelo País não passaram de US$ 3,38 bilhões, o que representou uma queda de 12,27% em relação a 2011 (US$ 3,85 bilhões). Resultado: embora as vendas de carros no mercado interno tenham crescido 4,5% em 2012, houve um decréscimo de quase 2% na produção.Diante desse quadro, o vice-presidente da General Motors (GM) no Brasil, Marcos Munhoz, defende um plano de exportação de manufaturados, voltado para dar competitividade ao produto brasileiro. "Nenhum país no mundo sobrevive só com vendas no mercado interno", disse ele ao Estado. Entende-se a posição do executivo. A existência de um mercado interno em expansão atraiu e continua atraindo montadoras para o País, vindas de várias partes do mundo. Mas os investimentos podem murchar se o Brasil não for capaz de disputar mercados não só em países vizinhos, mas ao redor do mundo - e isso é cada vez mais problemático. Segundo Munhoz, a indústria automotiva prevê que suas vendas externas registrem este ano nova queda de cerca de 5%. As suas vendas, como em muitos outros setores, hoje são cada vez mais dependentes do mercado interno, sustentado por ganhos de renda das classes C e D nos últimos anos, que tendem a ser mais limitados de ora em diante, e por estímulos pontuais concedidos pelo governo. Está claro que, para que a produção industrial possa elevar-se, o País precisa de uma política de exportação, indo desde medidas para aperfeiçoamento tecnológico para elevar a produtividade a um ativo processo de promoção no exterior dos produtos nacionais. Atualmente, o governo toma medidas de desoneração tributária, altera alíquotas do imposto de importação, modifica normas, renegocia acordos internacionais, etc., sem dialogar diretamente com os setores interessados, que acabam se sentindo desorientados. Há uma volatilidade das regras comerciais no País, como afirmou a presidente da GM brasileira, Grace Lieblein, que está deixando o cargo para assumir outra posição na matriz. "No Brasil, precisamos de plano A, B, C até F, e usamos todos." Ela se referiu especificamente à modificação feita em março de 2012 no acordo automotivo com o México, que estabeleceu cotas de importação de veículos daquele país por três anos.O governo está muito preocupado em proteger a indústria das importações, sem considerar que elas podem ser compensadas pelo aumento das exportações. São conhecidas as deficiências de infraestrutura do País, mas muitas medidas podem ser tomadas pelas empresas, em entendimento com o governo, para reduzir o custo Brasil e aumentar a produtividade.Note-se, bem a propósito, que o regime automotivo não contempla desoneração fiscal para autopeças. Como foi noticiado, a Receita Federal foi contrária à redução de impostos para o setor, já que nele o IPI é cobrado sobre o produto acabado e não sobre a cadeia produtiva. Para compensar, o governo pretende facilitar o crédito para o setor e dar acesso a "consultorias" para aperfeiçoamento da qualidade. O novo regime automotivo, porém, não modificou o requisito de conteúdo nacional dos carros e, além disso, o governo quer que as montadoras proporcionem mais eficiência energética. A meta é que, até 2017, os automóveis nacionais façam 27 km com um litro de gasolina. Ao que se saiba, porém, não houve ainda nenhum acerto com as montadoras e com os integrantes da cadeia produtiva. No papel, o esquema preparado pelos técnicos do governo parece impecável, mas faltou, como dizia Garrincha, combinar com os russos.