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Muito alarido, pouco resultado

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Por Redação
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Todo o estardalhaço feito pela Prefeitura em torno das faixas exclusivas para ônibus – apontadas como um dos pontos principais daquilo que, sem modéstia e muito menos fidelidade aos fatos, ela julga ser uma verdadeira revolução no sistema de transporte da capital – não passa do que é de fato: apenas muito barulho. E a comprovação vem de dados da própria Secretaria Municipal de Gestão a respeito da velocidade média dos ônibus, que está longe da maravilha imaginada pelo governo de Fernando Haddad.

A velocidade caiu no ano passado e voltou ao que era antes das faixas nos horários de pico da manhã e da tarde, como mostra reportagem do Estado. Entre 7 e 10 horas, a queda foi de 17 km/h, em 2013, para 16 km/h, no ano passado. E entre 17 e 20 horas a velocidade média voltou ao que era antes – passou de 16 km/h para 15 km/h. É bom lembrar que a meta fixada em 2013 pela Prefeitura para os dois períodos era de 25 km/h. A pergunta que os paulistanos certamente farão diante desses números é: foi para isso que a Prefeitura implantou 291,4 km de faixas exclusivas em 2013 e mais 77,8 km em 2014, num total de 386 km distribuídos por 111 corredores viários?

Alega o especialista em engenharia de transporte Horácio Augusto Figueira, para tentar explicar esse mau desempenho, que as faixas “deram um ganho inicial de velocidade, mas o que amarra os ônibus no percurso são os semáforos nos cruzamentos, que ainda são programados pensando no trânsito de automóveis”. O argumento não convence. Como os semáforos ao que consta não mudaram, ou seja, tanto “amarravam” os ônibus antes das faixas como “amarram” agora, fica muito difícil de aceitar que sejam eles os responsáveis pelo resultado decepcionante das faixas. É de supor que mudanças neles possam, sim, melhorar a situação hoje, mas da mesma forma que poderiam ter melhorado antes.

Quando solicitada a comentar a questão, a reação da Secretaria Municipal de Transportes foi surpreendente: nela simplesmente não tocou, preferindo fazer considerações gerais sobre o problema do transporte público na capital. Em nota oficial, afirma, por exemplo, que “a prioridade da atual gestão é o transporte público”, para em seguida citar medidas, entre elas as faixas exclusivas, tomadas “para aumentar a velocidade média dos ônibus e diminuir o tempo de viagem dos passageiros”. Sobre a queda da velocidade, nem uma palavra.

A Secretaria também nada disse sobre a aparente contradição entre essa queda e outro dado levantado pela Prefeitura – aquele que mostra que o tempo médio de viagem de ônibus, do ponto inicial ao final, diminuiu. Ele era de 66 minutos em 2013 e baixou para 63 minutos no ano passado, no horário de pico da tarde. No da manhã, passou de 67 para 64 minutos. Mesmo sendo reduções pequenas, elas representam ganho que não parece compatível com a diminuição da velocidade média dos ônibus.

Essa não é, decididamente, a maneira correta de tratar a população, em especial os milhões que utilizam o serviço de ônibus e têm o direito de receber informações seguras sobre seu desempenho. Mas está longe de ser surpreendente. Afinal, não se deve esquecer de que o atual governo nunca divulgou os estudos – se é que eles foram feitos – nos quais se baseou, ou deveria ter se baseado, para implantar quase 400 km de faixas exclusivas de ônibus e outro tanto de ciclovias, este até 2016.

É legítimo supor, portanto, que tudo isso foi feito na base da improvisação. E o resultado está aí – as faixas não tiveram o efeito prometido na melhora do desempenho dos ônibus. E as ciclovias estão quase desertas, como qualquer um pode constatar. No caso dos ônibus, a medida correta é a construção de corredores, mas estes estão atrasados por causa de projetos mal feitos barrados pelo Tribunal de Contas do Município. Quanto às ciclovias, em vez de dar preferência à periferia, onde a demanda por elas existe de fato, Haddad concentrou-se nos bairros centrais, que têm poucos ciclistas, mas chamam muito mais a atenção. Em resumo, muito alarido e demagogia e pouco resultado.