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Muito ruim a prévia do PIB

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Por Redação
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O mau desempenho da economia brasileira no ano passado, já denunciado pelos dados muito ruins da indústria e do emprego industrial e pelos últimos números do consumo, é confirmado por mais um indicador calculado por um órgão de governo. A produção encolheu 0,17% do segundo para o terceiro trimestre e 1,35% de novembro para dezembro, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia imperfeita, mas útil, do Produto Interno Bruto (PIB). De janeiro a dezembro houve crescimento de 2,57%, segundo a série livre de fatores sazonais, e de 2,52%, de acordo com as informações registradas sem depuração. Qualquer desses dois números aponta mais um ano de resultados medíocres, o terceiro consecutivo. O PIB cresceu apenas 2,7% em 2011 e 1% em 2012. O número oficial de 2013 deve ser anunciado no fim do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelas estimativas do mercado financeiro e de consultorias independentes, muito dificilmente será mais animador que o IBC-Br. Não há discriminação de setores na tabela desse indicador, mas a fraqueza da economia, já se sabe, é explicável, principalmente, pelas más condições da indústria, especialmente do segmento de transformação, pelo baixo nível de investimento e por uma ampla coleção de ineficiências. O crescimento da indústria geral, 1,2% segundo já informou o IBGE, nem sequer bastou para o setor se recuperar da queda de 2,5% no ano anterior. Pela estimativa do BC, a atividade econômica diminuiu em dois trimestres consecutivos: 0,21% do segundo para o terceiro e 0,17% do terceiro para o quarto. Reduções em dois trimestres seguidos configuram tecnicamente uma recessão. Mas é cedo para usar essa palavra, embora a segunda metade do ano tenha sido indiscutivelmente muito ruim. Mas só os dados do IBGE poderão confirmar ou desmentir um cenário tecnicamente recessivo. Parte da informação necessária já é conhecida. No período de julho a setembro o PIB foi 0,5% menor que nos três meses anteriores. Falta ainda conhecer a estimativa do PIB entre outubro e dezembro.Para o planejamento empresarial faz pouca diferença, nesta altura, o reconhecimento de uma recessão na segunda metade do ano passado. Tampouco fará diferença o registro oficial de um modesto crescimento do PIB nos três meses finais. De toda forma, o período foi desastroso para a maior parte da indústria, inegavelmente, e quem sobreviveu deve cuidar de outros assuntos para alcançar maior expansão e maior segurança neste ano e nos próximos. Essa tarefa será especialmente complicada, se o governo insistir nas políticas seguidas nos últimos três anos e der prioridade - como geralmente se espera - às conveniências eleitorais. Um maior dinamismo econômico seria muito conveniente para as pretensões políticas da presidente, mas o empresariado precisa de mais confiança para investir e assumir riscos maiores. Mas a equipe de governo tem mostrado, até agora, pouca disposição para mudar o repertório de políticas. Completadas as duas primeiras semanas de fevereiro, o Executivo nem sequer anunciou sua meta fiscal para este ano. O compromisso em relação às contas públicas tem de ser ao mesmo tempo crível e realizável sem muita dificuldade, para atender às conveniências eleitorais da presidente. De toda forma, seria precipitado imaginar um ano de austeridade fiscal, com redução da gastança.O BC, tudo indica, deve continuar sendo o responsável principal - talvez o único - pelo combate à inflação. A contenção dos preços dependerá, portanto, principalmente dos juros. O acesso ao crédito de longo prazo continuará difícil para a maior parte das empresas no País, e mais escasso no exterior. O câmbio um pouco mais depreciado e pressões salariais mais brandas poderão dar algum oxigênio às indústrias, mas outros custos, como o da energia, poderão pesar nas contas. Se os investimentos em infraestrutura deslancharem, as perspectivas ficarão melhores, mas os bons efeitos só deverão surgir nos próximos anos. É difícil, hoje, apostar em resultados muito melhores que os de 2013.