13 de dezembro de 2014 | 02h04
Apesar das reiteradas manifestações de Dilma Rousseff de que a corrupção precisa ser combatida "sem tréguas" e "doa a quem doer", fica evidente que para tanto não se pode contar com a influência de seu governo ou de seu partido.
Para anunciar a decisão do MPF, a força-tarefa da Operação Lava Jato se reuniu na quinta-feira em Curitiba, com a presença de representantes da Polícia Federal, da Receita Federal e do procurador-geral da República, que se deslocou de Brasília para prestigiar o ato. E também para dar seu recado. Depois de declarar que os denunciados "roubaram o orgulho dos brasileiros", numa referência aos prejuízos que esse escândalo tem causado à imagem da Petrobrás no País e no exterior, advertiu que: "Começamos hoje essa nova fase dessas investigações. Outras se seguirão. Esse não será um trabalho de tempo rápido".
Ao denunciar 36 investigados, entre eles 25 altos dirigentes de 6 grandes empreiteiras - Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, Engevix, Galvão Engenharia e UTC Engenharia -, o MPF agiu com uma estratégia que dividiu a investigação de acordo com as áreas administrativas da estatal sob suspeita. Neste primeiro "pacote" esteve em foco a Diretoria de Abastecimento, que era comandada por Paulo Roberto Costa, preso há meses, autor de delação premiada e agora denunciado.
Os denunciados foram divididos em três grupos: o das empreiteiras que formavam o cartel, o dos funcionários da Petrobrás envolvidos e o dos operadores financeiros, responsáveis pela lavagem do dinheiro e a distribuição de propinas. Neste caso, integrantes do grupo do doleiro Alberto Youssef.
Explicou o procurador Deltan Dallagnol: "Esses pagamentos feitos pelas empresas corruptoras aos funcionários públicos da Petrobrás corrompidos eram intermediados por operadores financeiros". E garantiu: "As acusações não param por aqui. Asseguro que novas acusações virão, inclusive de improbidade contra as empresas cartelizadas".
A reação de todo cidadão consciente diante das revelações da Operação Lava Jato só pode ser de consternação. Embora os fatos atuais não constituam exatamente novidade, ela é espantosa pela dimensão e revoltante pelas implicações e leva à inescapável conclusão de que o ambiente dos negócios públicos no País está profundamente contaminado pela cultura da propina, que alimenta, muito mais do que a mera ambição material de servidores públicos inescrupulosos, os interesses e a ganância de detentores de poder político que estão por detrás deles. Afinal, é simplesmente impossível de imaginar que esquemas bilionários de corrupção dentro de uma empresa pública se concretizem sem o conhecimento e o beneplácito, se não da iniciativa e do estímulo, de poderosos figurões da cena política.
Esta cena, aliás, brevemente se tornará o foco dos holofotes da Lava Jato. Por enquanto, as investigações se desenvolvem sob a responsabilidade da 13.ª Vara Federal de Curitiba, cujo titular é o juiz Sergio Moro, a quem foi apresentada essa primeira denúncia do MPF. As investigações em torno dos políticos com mandato estão sob a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF), pois nesse caso os eventuais réus desfrutam de foro privilegiado.
Num ambiente de grande tensão política e incertezas quanto ao futuro do País às vésperas do início do segundo mandato de Dilma Rousseff, o ato de Curitiba teve o dom, pelo menos, de resgatar momentaneamente a confiança dos brasileiros na consolidação da grande conquista democrática que significou, há pouco mais de dois anos, o julgamento do mensalão: o fim da impunidade dos poderosos.
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