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Não ajuda e ainda atrapalha

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Por Redação
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Aquilo de que se precisa para enfrentar a grave crise hídrica que atinge a maior cidade do País - como recomenda o mais elementar bom senso - é a cooperação de todos os que têm uma parcela de responsabilidade na solução do problema. Houve até tímidos sinais de que, passadas as eleições, isso seria possível, mas infelizmente persistem as tentativas de tirar proveito político da situação, por parte de autoridades federais, que recomendam à oposição "descer do palanque", mas dele não querem sair de jeito nenhum.A ida do governador Geraldo Alckmin a Brasília, no dia 10, para discutir com a presidente Dilma Rousseff a possibilidade de receber ajuda federal para enfrentar a crise foi um exemplo disso. Durante encontro que durou uma hora, Alckmin apresentou-lhe um conjunto de oito obras, que preveem investimentos de R$ 3,5 bilhões, e pediu-lhe que o governo federal contribua com o "máximo que puder". Se a presidente não retomou as críticas feitas durante a campanha a respeito da condução do problema pelo governo paulista - o que era natural, já que a reunião foi possível, também, por um gesto de abertura ao diálogo de sua parte -, o mesmo não aconteceu com duas de suas ministras.A do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou logo depois que o governo federal está "muito preocupado" com a crise, mas não perdeu a ocasião de criticar o governo paulista por não apresentar "nada que se refere a obras mais estruturantes de longo prazo". O que não corresponde à verdade, porque parte das obras são "estruturantes" e deve ficar pronta em três anos. Sua colega do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, igualmente deixou de lado o tom conciliador que era de esperar para a ocasião e fez questão de dizer que a situação em São Paulo é "crítica". Para concluir com "fecho de ouro" essa tentativa de entendimento, decidiu-se criar um grupo de trabalho para estudar o problema, o que, nos usos e costumes da administração pública, significa que não se pretende fazer nada. A não ser que a presidente mude de ideia, é isso que deve acontecer.E nada indica, até agora, que ela pretende mudar. Muito ao contrário. E o "muito" se justifica perfeitamente, porque o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, atacou novamente, com a agressividade habitual. Como não foi chamado às falas nas vezes anteriores, omissão que se confunde com cumplicidade, é razoável supor que o mesmo vai se repetir agora. Numa audiência na Câmara dos Deputados, afirmou que será preciso um "dilúvio" até o fim do ano para que o Sistema Cantareira volte ao nível de janeiro. Como não se podem imaginar chuvas de dimensões bíblicas em tão pouco tempo, a intenção de Andreu só pode ter sido provocar e disseminar o pânico na população, como afirmou com razão o governo paulista. Tratar coisas sérias, pelo menos no que se refere à crise hídrica de São Paulo, em tom de galhofa, com chocante irresponsabilidade, totalmente incompatível com o cargo que ocupa, virou hábito para Andreu. Há cerca de um mês, ele já havia dito que o uso da segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira "é a pré-tragédia".Como isso aconteceu em plena campanha eleitoral e durante encontro organizado pela bancada do PT na Assembleia Legislativa, só se pode concluir que ele agiu de caso pensado para assustar a população com objetivo político. Ele procede como se ainda fosse dirigente sindical e militante petista e não presidente da ANA.A crise hídrica é grave, ninguém nega, mas não é produto da ação ou omissão desse ou daquele partido. É resultado da maior seca dos últimos 84 anos. Não pode ser tratada desse modo rasteiro. Colaborar para sua solução é obrigação do governo federal. Até porque ele também sofre as consequências dessa seca, pois os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste estão com o índice mais baixo desde 2001. Afinal, como lembra o ditado - pau que bate em Chico bate em Francisco. A situação de São Paulo só é pior, porque, ao contrário da energia elétrica, para a falta d'água não existem usinas termoelétricas.