16 de novembro de 2014 | 02h03
A ida do governador Geraldo Alckmin a Brasília, no dia 10, para discutir com a presidente Dilma Rousseff a possibilidade de receber ajuda federal para enfrentar a crise foi um exemplo disso. Durante encontro que durou uma hora, Alckmin apresentou-lhe um conjunto de oito obras, que preveem investimentos de R$ 3,5 bilhões, e pediu-lhe que o governo federal contribua com o "máximo que puder". Se a presidente não retomou as críticas feitas durante a campanha a respeito da condução do problema pelo governo paulista - o que era natural, já que a reunião foi possível, também, por um gesto de abertura ao diálogo de sua parte -, o mesmo não aconteceu com duas de suas ministras.
A do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou logo depois que o governo federal está "muito preocupado" com a crise, mas não perdeu a ocasião de criticar o governo paulista por não apresentar "nada que se refere a obras mais estruturantes de longo prazo". O que não corresponde à verdade, porque parte das obras são "estruturantes" e deve ficar pronta em três anos. Sua colega do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, igualmente deixou de lado o tom conciliador que era de esperar para a ocasião e fez questão de dizer que a situação em São Paulo é "crítica".
Para concluir com "fecho de ouro" essa tentativa de entendimento, decidiu-se criar um grupo de trabalho para estudar o problema, o que, nos usos e costumes da administração pública, significa que não se pretende fazer nada. A não ser que a presidente mude de ideia, é isso que deve acontecer.
E nada indica, até agora, que ela pretende mudar. Muito ao contrário. E o "muito" se justifica perfeitamente, porque o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, atacou novamente, com a agressividade habitual. Como não foi chamado às falas nas vezes anteriores, omissão que se confunde com cumplicidade, é razoável supor que o mesmo vai se repetir agora. Numa audiência na Câmara dos Deputados, afirmou que será preciso um "dilúvio" até o fim do ano para que o Sistema Cantareira volte ao nível de janeiro.
Como não se podem imaginar chuvas de dimensões bíblicas em tão pouco tempo, a intenção de Andreu só pode ter sido provocar e disseminar o pânico na população, como afirmou com razão o governo paulista. Tratar coisas sérias, pelo menos no que se refere à crise hídrica de São Paulo, em tom de galhofa, com chocante irresponsabilidade, totalmente incompatível com o cargo que ocupa, virou hábito para Andreu. Há cerca de um mês, ele já havia dito que o uso da segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira "é a pré-tragédia".
Como isso aconteceu em plena campanha eleitoral e durante encontro organizado pela bancada do PT na Assembleia Legislativa, só se pode concluir que ele agiu de caso pensado para assustar a população com objetivo político. Ele procede como se ainda fosse dirigente sindical e militante petista e não presidente da ANA.
A crise hídrica é grave, ninguém nega, mas não é produto da ação ou omissão desse ou daquele partido. É resultado da maior seca dos últimos 84 anos. Não pode ser tratada desse modo rasteiro. Colaborar para sua solução é obrigação do governo federal. Até porque ele também sofre as consequências dessa seca, pois os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste estão com o índice mais baixo desde 2001. Afinal, como lembra o ditado - pau que bate em Chico bate em Francisco. A situação de São Paulo só é pior, porque, ao contrário da energia elétrica, para a falta d'água não existem usinas termoelétricas.
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