Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Necessidade de ideias

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

A existência de organizações intermediárias entre o governo e o cidadão, como meio de organização social e de transmissão de ideias, sempre foi um fator importante para o desenvolvimento de uma sociedade livre e plural. Atualmente, no entanto, como aponta o estudo 2014 Global Go To Think Tank - relatório anual da Universidade da Pensilvânia sobre as organizações conhecidas como think tanks, cujo objetivo é produzir e difundir conhecimento com impacto político e social -, essas organizações são ainda mais necessárias, tendo em vista o aumento do Estado e a crescente complexidade dos problemas políticos. Elas são um importante auxílio para o Estado, ao contribuir para o aprimoramento das políticas públicas, e para o cidadão, por constituir uma fonte de informação e análise independentes.Como indica o relatório, tais grupos de pensamento e pesquisa estão hoje presentes no mundo inteiro. No ranking entre os países, os Estados Unidos estão em primeiro lugar, com 1.830 organizações desse tipo. Depois vêm China (429), Reino Unido (287) e Alemanha (194). O Brasil está na 13.ª posição, com 82 think tanks.A Brookings Institution (EUA) foi novamente eleita como o think tank de maior influência mundial. Criada em 1916, essa organização privada tem como objetivo analisar as políticas públicas, especialmente as questões relacionadas à economia, ao governo e às relações internacionais. No ranking global, a primeira instituição brasileira é a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que ocupa o 18.º lugar. Entre os 50 think tanks de maior relevância na América Latina e na América Central, há sete organizações brasileiras, entre as quais estão, por exemplo, os Institutos Fernando Henrique Cardoso, de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Millenium.Segundo o estudo, o constante desafio dos think tanks é conseguir produzir conteúdo capaz de atingir, no momento certo, os agentes públicos e os formadores de opinião. Ou seja, atualmente já não basta a simples produção de conhecimento, sendo necessário fazê-lo chegar oportunamente aos destinatários adequados. De acordo com a revista inglesa The Economist, os bons think tanks são as organizações capazes de combinar "profundidade intelectual, influência política, talento para a publicidade, circunstâncias favoráveis e um traço de excentricidade". Por essa razão, o ranking utiliza variados indicadores, que buscam avaliar as organizações não apenas em relação aos seus recursos humanos e financeiros (por exemplo, a capacidade de recrutar e reter bons pesquisadores), mas também quanto ao uso efetivo do conteúdo produzido e o seu grau de impacto, quer seja na mídia, quer seja na tomada de decisão dos agentes públicos, por exemplo.De acordo com o relatório, podem ser observadas algumas tendências em relação aos temas de estudo dos think tanks. Entre os temas atualmente em alta estão, por exemplo, a globalização, a democratização, as demandas de informação e análise independentes, o Big Data, o aumento da polarização política, a crise econômica e a paralisia política.Outro desafio permanente dos think tanks é a sua sustentação econômica. O relatório indica que, tanto na América Latina quanto na Ásia e na África, essas organizações são ainda muito dependentes dos recursos estatais, o que diminui a sua autonomia. Já os think tanks cujo financiamento é estritamente privado vêm enfrentando crescentes dificuldades na obtenção de doações, já que muitas pessoas preferem doar para projetos específicos de curto prazo a investir em instituições e ideias.Ao apresentar um ranking dos think tanks ao redor do mundo, o relatório pode servir como um bom termômetro a respeito da capacidade de uma sociedade se organizar e se mobilizar, tanto para aprimorar as políticas públicas quanto para produzir informação e análise independentes. Sob esse ponto de vista, o Brasil avançou sensivelmente nos últimos anos, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Só existe uma democracia vibrante onde há uma sociedade vibrante.