
08 de dezembro de 2012 | 02h06
Para o secretário, são igualmente inaceitáveis os ataques à polícia por parte do crime organizado, as matanças na periferia e a alta taxa de letalidade da polícia - 447 pessoas morreram em enfrentamentos com a Polícia Militar (PM), entre outubro de 2011 e setembro de 2012. É preciso, diz ele, baixar "todos os índices, da criminalidade à letalidade". A firmeza que demonstra no trato da questão dos excessos da polícia - aquele número de mortos é muito elevado, de qualquer ângulo que se considere a questão - ficou patente na posição que adotou com relação à Rota, a unidade da PM à qual se atribui grande parte deles. "A Rota vai cumprir o papel que lhe cabe. Não farei distinção. Não vamos privilegiar um segmento e a Rota não terá papel prioritário." Há aí uma clara mudança de posição, para melhor, em relação à política anterior.
Para fazer frente à situação que inquieta a população, foram definidas quatro linhas de ação emergenciais: "melhorar a estrutura da inteligência, trabalhar a integração das polícias, fortalecer o comando para uma presença maior de polícia na rua e, por fim, aumentar a interlocução com a sociedade civil". Desde que assumiu a Secretaria, Grella Vieira vem batendo na tecla da importância do serviço de inteligência e na integração das Polícias Civil e Militar. A necessidade de tornar realidade esses dois pontos é algo sobre o que há unanimidade entre os especialistas na questão.
Não é fácil, como mostra a experiência, vencer as resistências corporativas que dificultam o planejamento e a execução de ações conjuntas das duas polícias. Embora a fusão delas, como ocorre nos países que desfrutam de um bom índice de segurança pública, seja o ideal, dificilmente ela ocorrerá aqui a curto prazo. Por isso, pelo menos aquela colaboração é indispensável para obter do aparelho policial mais do que ele tem dado.
A melhoria do serviço de informação é essencial para que a polícia não seja uma força míope, mais truculenta que eficiente. Esse é, em princípio, um problema mais fácil de resolver. Depende de vontade e persistência, que Grella Vieira vem dando mostras seguidas de ter, mas também da disponibilidade de recursos. Ou seja, isso só se tornará realidade se o secretário contar com o apoio decidido e constante do governador Geraldo Alckmin. Um centro integrado de inteligência, com oficiais da PM e delegados, já começou a funcionar na Secretaria e, se o acordo de parceria entre os governos estadual e federal na área de segurança for mesmo para valer, ele receberá o reforço dos serviços de informação da Polícia Federal e da Receita Federal. Ajuda que, diga-se de passagem, a União já deveria estar fornecendo a São Paulo há muito tempo.
Outro aspecto relevante da questão da criminalidade é o do regime carcerário mais rigoroso a que devem ser submetidos os chefes do crime organizado, em especial os do PCC. E isso significa principalmente impedi-los de se comunicar com seus cúmplices fora dos presídios. Por que não se consegue impedir a entrada de celulares nas prisões é algo que o governo nunca explicou de forma convincente. Talvez Grella Vieira, que acaba de defender tal isolamento, possa ajudar a esclarecer esse mistério.
O secretário está no caminho certo, mas isso não basta. É preciso se manter nele por muito tempo e, para isso, precisará de forte respaldo do governador.
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