
15 de novembro de 2012 | 02h09
Jiang foi o último dirigente da República Popular com suficiente luz própria para impor aos saudosos do maoismo o estreitamento das relações com o Ocidente e o ingresso do país da Organização Mundial do Comércio. Desde então, prevalece a regra da liderança coletiva, em que a autoridade do líder na tomada de decisões está sujeita ao consenso na mais alta instância do partido, o Comitê Permanente do seu Burô Político, de 25 membros. Abaixo dele, no modelo hierárquico importado da antiga União Soviética, vem o Comitê Central, integrado por 371 quadros. (O PCC tem cerca de 80 milhões de membros, ou 6% da população.) Hoje se saberá se o Comitê Permanente perderá dois integrantes, ficando com sete, como se especula. Se a redução se consumar, a influência dessa elite evidentemente aumentará. Dela são membros naturais o presidente e o primeiro-ministro. O atual, Wen Jiabao, também será substituído por seu vice, Li Keqiang, de 57 anos. O sistema colegiado facilita o controle dos conflitos entre facções, mas é um fator de imobilismo.
A liberalização política simplesmente não está no horizonte chinês. Durante o congresso do PCC, o regime não hesitou em se expor ao ridículo ao proibir os taxistas de Pequim de transportar pessoas que carregassem balões - poderiam conter inscrições de protesto - ou de circular com os vidros abertos: afinal, sabe-se lá que palavra de ordem "burguesa" o passageiro poderia ser tentado a gritar. Mais convencional foi a retaliação ao New York Times e à agência de notícias Bloomberg, cujos repórteres foram excluídos da cobertura da apresentação do novo Comitê Permanente. O jornal revelou recentemente que, em pouco mais de uma década, a família do premiê Wen acumulou uma fortuna de US$ 2,7 bilhões. A agência fez algo pior: relatou os diversificados interesses - de mineração de terras raras ao setor de telecomunicações - da família de Xi Jinping. A liderança chinesa tem diante de si um desafio comparável à da quadratura do círculo: combater a endêmica corrupção no governo sem ceder às demandas por abertura e transparência nos negócios públicos.
A nova classe dirigente, por sinal, é a primeira, na China comunista, que não se fez por si só no aparato partidário. Sua ascensão se deve aos familiares que integravam a velha guarda revolucionária. Daí serem chamados "principezinhos", em um reconhecimento tácito do papel cada vez mais importante do nepotismo na estrutura do PCC, Forças Armadas e principais conglomerados econômicos. Xi, para começar, descende de um companheiro de Mao nos "anos heroicos" - comissário político no Exército e governador provincial, entre outras coisas. "O país é governado por umas poucas famílias", assegura o historiador Zhang Lifan, ouvido pelo New York Times. Os "principezinhos" não têm por que serem reformistas. "O partido não quer trilhar um caminho alternativo", disse à correspondente do Estado em Pequim, Cláudia Trevisan, o cientista político Wu Qiang, da respeitada Universidade Tsinghua (onde Hu se formou). "O autoritarismo ficará mais poderoso."
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