Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Novos temores nos mercados

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

Passado o temor do calote americano, uma nova onda de preocupações se espalha pelos mercados, atinge o Brasil e põe o governo em alerta, como deixou claro a presidente Dilma Rousseff ao lançar o Plano Brasil Maior. Ela previu "um longo período de tensão" na economia mundial e novos problemas cambiais causados pelo excesso de dinheiro emitido nos países mais desenvolvidos. Mas o cenário global é mais complexo e mais assustador. Inclui o risco de nova fase de estagnação nos EUA e em vários países do mundo rico e de mais um surto de problemas financeiros na zona do euro. Na terça-feira os governos da Itália e da Espanha tiveram de pagar juros excepcionalmente altos - 6,13% e 6,28% - para rolar seus títulos no mercado. Diante da nova turbulência, o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, adiou as férias de verão. Seu colega italiano Silvio Berlusconi apressou-se a marcar para o dia seguinte um discurso no Parlamento. Na quarta-feira de manhã, o ministro da Economia da Itália, Giulio Tremonti, reuniu-se em Luxemburgo com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, para uma conversa sobre os problemas da zona do euro. O Eurogrupo reúne os ministros de Economia e Finanças da união monetária. A notícia do encontro "produtivo" foi seguida por uma valorização de ações de bancos de toda a Europa, depois de vários dias de baixas. O alívio trazido pelo novo pacote de socorro à Grécia durou pouco e foi logo substituído por temores mais fortes em relação à dívida soberana de duas economias consideradas até há pouco tempo mais sólidas que a grega - a portuguesa e a irlandesa. As dúvidas - ou especulações - quanto à segurança dos papéis da Itália e da Espanha tendem a contaminar a credibilidade de outros devedores. Como consequência, já se comenta nos mercados a possibilidade de novas compras de títulos públicos pelo Banco Central Europeu (BCE). Desde maio de 2010, quando os governos se mobilizaram para a primeira ajuda à Grécia, o BCE comprou 78 bilhões em papéis gregos, portugueses e irlandeses, agora muito desvalorizados. Governos locais da Hungria pediram um ano de carência para suas dívidas em francos suíços, uma das moedas mais valorizadas nos últimos tempos. Diante da turbulência, aumentaram as apostas de que o BCE e o Banco da Inglaterra manterão os juros, nas reuniões que farão hoje. Na zona do euro, a melhor notícia da semana veio do varejo. As vendas de junho foram 0,9% maiores que as de maio. Mas a informação completa é menos animadora. O resultado de junho ainda foi 0,4% inferior ao de um ano antes. Além disso, a queda de abril para maio foi revista de 1,1% para 1,3%. Na maior parte da zona do euro os sinais vitais continuam muito fracos. Nos EUA, o Departamento do Trabalho deverá divulgar amanhã um dos indicadores mais esperados de cada mês - a evolução do emprego nas atividades urbanas. Na quarta-feira, a ADP, uma gigante processadora de folhas de pagamento, informou a criação de 114 mil empregos pelo setor privado, em julho, número superior ao previsto por vários economistas do mercado financeiro - 100 mil. Mas, segundo a consultoria Challenger, Gray & Christmas, o número de cortes planejados pelas empresas privadas chegou a 66.414 no mês passado, 60% mais do que em junho. O suspense continuará até saírem os dados oficiais. Os últimos disponíveis indicam que 9,2% de desemprego foi do setor rural.Sejam quais forem os novos números, as perspectivas são de recuperação mais lenta e mais difícil da economia americana. Se o ajuste orçamentário depender só de cortes de gastos, sem aumento de impostos para ricos e grandes empresas, a crise será longa e penosa para milhões de famílias. Por isso o governo continua batalhando politicamente para conseguir pelo menos a redução das isenções fiscais concedidas aos contribuintes mais poderosos. Uma estagnação mais longa nas maiores economias capitalistas comprometerá o comércio internacional, aumentará as distorções nos fluxos de capitais e terá um enorme custo para os países emergentes e em desenvolvimento.