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O alerta de enchentes

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Por Redação
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O governo do Estado de São Paulo inovou nos últimos tempos no combate às enchentes. Em vez de se dedicar apenas à construção de piscinões e à canalização de rios e córregos, investiu pesadamente em tecnologia, inteligência e processos para a prevenção e o controle das inundações. No mês passado, a Secretaria de Saneamento e Energia anunciou o início da operação do Sistema de Previsão e Alerta de Enchentes, que permite o cruzamento de dados enviados pelo radar meteorológico com os emitidos por uma rede de monitoramento de represas, cursos d"água e reservatórios. As grandes tempestades e suas consequências podem ser avaliadas com tempo suficiente para a adoção de medidas preventivas capazes de assegurar proteção à população. O sistema utiliza dados meteorológicos (chuvas) e hidrológicos (níveis de água nos rios, piscinões e córregos) monitorados em tempo real por meio de uma rede de estações telemétricas e de um radar meteorológico. Os dados são transmitidos a cada dez minutos para uma central de processamento, onde são analisados e, conforme o resultado, enviados às subprefeituras e demais órgãos responsáveis pelo atendimento a vítimas de enchentes. Há alguns dias, porém, uma chuva forte atingiu o bairro de Americanópolis, na zona sul da capital, e as águas do Ribeirão dos Aterrados subiram rapidamente, inundando a Rua Delfino Facchina. Os moradores, como sempre fazem em tais ocasiões, saíram às ruas para impedir que motoristas desavisados seguissem via abaixo, onde as águas ganhavam força. Não conseguiram evitar, porém, que um deles fosse adiante. O automóvel acabou arrastado pela correnteza e dois de seus quatro ocupantes morreram. Outras seis famílias ficaram desabrigadas porque nenhuma medida preventiva foi tomada. Os gritos de alertas aos motoristas e o esforço conjunto dos moradores para evitar maiores danos dentro das casas foram as únicas ações de prevenção no local. Diante dos questionamentos sobre o bom funcionamento do sistema, que custou R$ 10 milhões, o superintendente do Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee), Amauri Pastorello, explicou que nem todos os córregos estão sob controle. "O sistema não consegue chegar a esse nível de detalhe."Seu discurso destoa do da secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, que, no lançamento do sistema, afirmou que "cada piscinão, córrego ou rio tem uma estação instalada em pontos estratégicos". Não tem, e a chuva demonstrou isso. Mas tudo indica que o sistema é bom. A falha ocorreu no processo de implantação da tecnologia. Talvez tenha falhado também a troca de informações entre Prefeitura e governo estadual para a definição dos cursos de água e piscinões a serem monitorados. O transtorno vivido pelos moradores da Rua Delfino Facchina se repete a cada chuva e, desde 2007, as promessas de transferência das famílias que moram na beira do córrego para conjuntos habitacionais apenas se renovam. O Ribeirão dos Aterrados poderá fazer parte da rede de cursos d"água monitorados, "se julgarmos que é importante", disse Pastorello.O julgamento já está atrasado e o que ocorreu em Americanópolis deveria servir de estímulo para uma revisão urgente dos pontos considerados críticos. Esse não é um fato isolado - em fevereiro, no mesmo bairro, uma mulher de 52 anos morreu quando as águas do Córrego Zavuvus invadiram sua casa. Portanto, é preciso reavaliar as informações que serviram de base para a instalação do sistema.O governo do Estado tem realizado um amplo esforço para o controle das enchentes na Grande São Paulo. Para o Programa de Infraestrutura Hídrica e Combate a Enchentes, reservou R$ 388 milhões neste ano, dos quais R$ 259 milhões para a região metropolitana. O programa inclui desde ações de desassoreamento de córregos até a instalação do novo Sistema de Previsão e Alerta de Enchentes, uma inovação que não pode ter seus resultados comprometidos por falta de planejamento e integração entre os governos locais e o estadual.