Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O balanço da Petrobras

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

A Petrobrás divulgou seu balanço, sexta-feira, com um lucro líquido de R$ 7,35 bilhões no quarto trimestre e de R$ 32,98 bilhões em 2008, neste caso, um recorde histórico. Mas os números também mostraram que a estatal sofreu o impacto da crise global, via redução do valor dos seus estoques de petróleo e aumento do seu endividamento. Ela é uma companhia aberta, com centenas de milhares de acionistas, e, portanto, obrigada a seguir uma política rigorosa, na qual não se incluem determinações de investimentos não considerados prioritários pela empresa. No terceiro trimestre de 2008, o lucro líquido foi de R$ 10,8 bilhões, caindo 32,2% no quarto trimestre. A redução, segundo o diretor financeiro, Almir Barbassa, deveu-se ao prejuízo na venda de estoques. Os analistas concordam apenas em parte com as explicações da empresa. As despesas operacionais aumentaram 11%, nesse trimestre, e 36%, na comparação entre 2007 e 2008 - de R$ 7,69 bilhões para R$ 10,45 bilhões. As despesas gerais e administrativas avançaram 27%. A geração de caixa, entre o terceiro e o quarto trimestres, caiu 20%. Contribuíram para o lucro de 2008 o aumento de 4% da produção nacional de petróleo e de 18% da de gás natural. Cresceu a produção da Plataforma FPSO-Cidade do Rio de Janeiro (no Campo de Espadarte) e entraram em operação as Plataformas Cidade de Vitória (Golfinho), P-52 e P-54 (Roncador), FPSO Cidade de Rio das Ostras (Badejo) e P-53 (Marlim Leste). Entrou em produção o Poço ESS-103, na camada pré-sal de Jubarte, na Bacia de Campos: 18 mil barris/dia. São dados positivos, mas o lucro também se explica pela política da Petrobrás que, em maio de 2008, aumentou 13% os preços da gasolina e do diesel, e não repassa para os preços dos derivados as oscilações das cotações da commodity no mercado internacional. Entre os quartos trimestres de 2007 e de 2008 houve queda de 38% nos preços internacionais do petróleo. Esta queda foi ainda maior na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, quando as cotações do petróleo tipo West Texas atingiram o pico de US$ 147 o barril, em julho. Em 2008, a Petrobrás aumentou seus investimentos em 18%, de R$ 45,28 bilhões, em 2007, para R$ 53,34 bilhões. Os maiores aumentos foram na exploração e produção (+26%), mas, porcentualmente, a maior variação ocorreu no segmento de gás e energia (+50%). É evidente o objetivo de reduzir a dependência do gás da Bolívia. Mas, ao mesmo tempo, registrou-se um forte aumento do endividamento da empresa. Entre 2007 e 2008, a dívida de curto prazo aumentou 55%, de R$ 8,96 bilhões para R$ 13,85 bilhões, e a de longo prazo, 65%, passando de R$ 30,78 bilhões para R$ 60,85 bilhões. A elevação do endividamento geral, de 63%, se deve, em grande parte, à desvalorização do real em relação ao dólar. Esta situação não deve se modificar no curto prazo. O vulto dos recursos necessários, no futuro, para a exploração da camada pré-sal obrigará a Petrobrás a concentrar os investimentos nas operações mais rentáveis. Numa fase de escassez de crédito, será mais difícil obter empréstimos para projetos de baixo retorno. Sem levar em conta as dificuldades globais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, na última sexta-feira, no Espírito Santo, que a Petrobrás não poderá adiar parte dos investimentos previstos para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entre 2009 e 2013. "Chamamos o companheiro Gabrielli, e dissemos: não tem chororô, meu filho... Vamos gastar cada centavo que pudermos gastar. Vamos investir para dinamizar a economia brasileira." Se as declarações não refletirem apenas a euforia habitual do presidente, haverá o risco de enfraquecimento da Petrobrás, que não deve servir como instrumento de políticas públicas, o que compete só ao governo. A Petrobrás já servirá ao governo ao lhe transferir, como acionista majoritário, 32% dos R$ 9,91 bilhões que deverão ser pagos, em 2009, sob a forma de dividendos, como foi anunciado por sua diretoria. Não pode hesitar entre seguir um orçamento ajustado à crise e gastar mais do que deveria, só porque Lula quer.