07 de janeiro de 2011 | 00h00
O governo tem sido fortemente pressionado pelos produtores brasileiros para conter a depreciação do dólar, isto é, a valorização do real. A valorização da moeda brasileira encarece o produto nacional na comparação com o estrangeiro. Isso torna a produção do Brasil menos competitiva tanto no exterior quanto no mercado interno. O grande aumento da importação no ano passado foi em grande parte uma consequência desse desequilíbrio, prejudicial tanto para as empresas quanto para os trabalhadores, porque dificulta a criação de empregos.
Bancos e outros agentes financeiros ficam vendidos em dólares quando apostam na valorização do real. Se estiverem certos nessa aposta, ganharão quando tiverem de comprar os dólares para entregar aos compradores, porque a moeda americana valerá menos do que hoje. Esse jogo tem sido lucrativo, porque o excesso de dólares no mercado internacional tem facilitado a aplicação de grandes volumes no Brasil e em vários outros mercados emergentes. No caso brasileiro, o bom desempenho da economia nacional e os juros elevados são fortes atrativos.
No ano passado, o BC comprou US$ 41,4 bilhões, na tentativa de enxugar o mercado e tornar o câmbio menos instável. No segundo semestre o Ministério da Fazenda elevou o imposto cobrado no ingresso de capitais de curto prazo para desestimular a especulação. Isso pode ter produzido algum efeito, mas não interrompeu a desvalorização da moeda americana. O banco central dos EUA anunciou no último trimestre a injeção de mais US$ 600 bilhões no mercado ao longo de seis meses, se a economia do País continuasse em marcha lenta. A emissão corresponde a US$ 75 bilhões por mês e a ameaça permanece, apesar de sinais de reativação econômica.
No Brasil, o dólar continuou caindo perigosamente na virada do ano e isso determinou tanto as declarações do ministro da Fazenda quanto a nova iniciativa do BC. Em abril, toda instituição com posição vendida superior a US$ 3 bilhões terá de recolher 60% do excedente ou da diferença entre aquela posição e o patrimônio de referência (PR). O cálculo será realizado com o menor desses dois valores - os US$ 3 bilhões ou o PR. Bancos poderão reduzir sua posição vendida comprando dólar e assim freando a sua desvalorização.
A nova iniciativa foi em geral bem recebida por analistas de consultorias e do mercado financeiro. Houve quem a considerasse suave, por causa do prazo de três meses para ajuste das carteiras e do teto de US$ 3 bilhões sem depósito compulsório. O recolhimento ao BC vai ser em reais e sem remuneração. Uma posição vendida de US$ 10 bilhões para todo o sistema é considerada razoável neste momento, mas a avaliação do BC poderá mudar, avisou Aldo Mendes.
É cedo para saber se a nova iniciativa será suficiente para deter a valorização do real. Ainda este mês o BC poderá decidir um novo aumento dos juros para combater a inflação. Se o fizer, tornará os papéis brasileiros mais atrativos para quem dispõe de dólares para aplicar no País - especialmente se o Fed continuar emitindo dezenas de bilhões por mês. Enfrentar todos esses desafios será muito complicado, se o combate à inflação continuar dependendo só do BC. O novo governo prometeu um aperto fiscal para complementar a política monetária. Mais do que nunca, é preciso cortar gastos e seguir esse caminho.
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