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O BC e a realocação das reservas

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Por Redação
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A notícia da venda, pelo Banco Central (BC), de US$ 24 bilhões em títulos do Tesouro norte-americano poderia dar a impressão de que o Brasil segue o exemplo de alguns países que procuram reduzir o porcentual de dólares em suas reservas, que, em razão da crise e do forte aumento da dívida norte-americana, se está enfraquecendo a cada dia. Mas a interpretação de que a decisão do BC tenha algum cunho político ou ideológico seria um grande erro, pois na verdade trata-se tão somente de agir com a devida dose de prudência. Com cerca de US$ 210 bilhões em reservas, o Brasil ocupa o quarto lugar no mundo ? atrás da China, do Japão e do Reino Unido ? como financiador do déficit dos EUA. Seguramente, compartilha da preocupação desses países sobre o crescimento da dívida interna norte-americana, financiada em boa parte por reservas de grandes países. Não pode ficar ausente do debate em torno da procura por uma nova moeda internacional, mas sabe que ela não será encontrada em curto prazo. A gestão das reservas é assunto delicado. A primeira preocupação é com a segurança das aplicações, o que muitas vezes põe a rentabilidade em papel secundário. O Tesouro norte-americano oferece bonds de 30 anos, mas também de 10 anos e de 2 anos. A diferença de remuneração varia entre 4,452%, para os papéis de longo prazo, até 0,91%, para os de 2 anos (cotações da tarde de ontem). Se a remuneração fosse o objetivo principal, seria justa a compra de títulos de longo prazo. O BC, no entanto, vendeu parte dos seus títulos de 10 anos para comprar os de prazo menor, num montante que parece ter sido de US$ 24,3 bilhões, em maio.Tratava-se apenas de uma realocação das reservas, reconhecendo que daqui a 30 anos o dólar poderá perder sua característica, hoje indiscutível, de moeda internacional. Antes de maio houve outras realocações das reservas: o Brasil se aproveitou da situação cambial delicada da Rússia para adquirir títulos do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês, considerado como o banco central dos bancos centrais), assim como do KfW (banco para crédito e reconstrução da Alemanha), que, além de serem aplicações muito seguras, oferecem rentabilidade melhor do que os bonds do Tesouro dos EUA. Os papéis norte-americanos continuam representando a maior parte das nossas reservas e o BC os administra com cuidado, porém não com uma preocupação ideológica ou meramente política.