26 de agosto de 2010 | 00h00
De junho para julho os juros médios cobrados de pessoas físicas subiram de 40,4% para 40,5% ao ano. Para as pessoas jurídicas o aumento foi de 23,5% para 24,3%. No primeiro caso, o spread passou de 28,6% para 28,9%. No outro, de 16,9% para 18,1%. Pode-se encontrar pelo menos boa parte da explicação na diferença entre o crescimento das operações do BNDES e a expansão dos empréstimos bancários oferecidos com recursos livres.
No primeiro caso, o saldo dos empréstimos em julho foi 4,7% maior que o do mês anterior e 45,4% superior ao de um ano antes. No outro caso, as variações foram muito menores - 0,4% e 11%, respectivamente. Empresas maiores e de menor risco migraram para o BNDES em busca de custos menores, segundo Altamir Lopes, e o aumento dos spreads cobrados pela maioria dos bancos foi uma reação a esse movimento. As taxas foram ajustadas ao novo quadro de clientes, formado na média por empresas menores e de maior risco, que geralmente pagam juros mais altos.
O BNDES atende normalmente clientes grandes - entre os principais tomadores de seus empréstimos estão os Grupos Petrobrás e Eletrobrás e várias das maiores companhias privadas. Empresas pequenas e médias consideradas de primeira linha também têm acesso aos financiamentos, mas em condições menos confortáveis, porque normalmente dependem da ação de bancos intermediários. Entre julho do ano passado e junho deste ano, 72% dos desembolsos foram destinados a grandes clientes.
Para a maioria das firmas pequenas o BNDES é uma fonte de crédito inacessível. Também isso dificulta imensamente o crescimento e a modernização das companhias de menor porte. São discriminadas no mercado e têm muita dificuldade para se aproximar da maior fonte nacional de empréstimos de longo prazo.
A seletividade como critério geral não impede, no entanto, alguns maus negócios. Clientes grandes especiais também enfrentam dificuldades, como ocorreu com o Frigorífico Independência, forçado a pedir recuperação judicial poucos meses depois de receber um empréstimo de R$ 250 milhões.
Mas é preciso lembrar pelo menos mais um fator para explicar a migração de clientes para o BNDES. O banco aumentou sua presença no mercado de financiamentos mais comuns, como os empréstimos para capital de giro, e passou a concorrer fortemente com as outras instituições, como disse ao Estado o analista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria. Crédito para investimento sempre foi o foco do BNDES, mas sua presença no mercado de empréstimos típicos de curto prazo aumentou a partir da crise. Também isso contribuiu para o aumento de suas operações nos últimos 12 meses.
Esses fatos fornecem material para uma ampla discussão sobre a política de crédito. É preciso estimular a participação de outros bancos nos empréstimos para investimento - e o governo já indicou a intenção de propor medidas para isso, incluída uma revisão da carga fiscal. Mas convém repensar o estilo de operação do BNDES. O banco tem-se envolvido intensamente no financiamento de grandes grupos, geralmente capazes de conseguir recursos em outras fontes. Será função de uma instituição desse tipo apoiar, por exemplo, a compra de empresas no exterior? Será papel de bancos estatais ajudar a fusão de grandes empresas? É urgente cuidar desses temas.
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