Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O bônus da segurança externa

O investimento direto estrangeiro reforça a segurança no País em fase de tensões

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Com ingresso de US$ 64,34 bilhões em 12 meses, o investimento direto estrangeiro, destinado à atividade empresarial, continua cobrindo com muita folga o déficit em transações correntes e, além disso, reforçando a segurança no País numa fase de tensões internacionais. Nem a turbulência cambial, associada à alta de juros americanos e aos conflitos comerciais criados pelo presidente Donald Trump, afetou de forma sensível as transações com o exterior. As contas externas têm sido há alguns anos a fonte mais constante de notícias econômicas positivas, no Brasil. Reservas em torno de US$ 380 bilhões – US$ 379,50 bilhões em junho – têm sido mantidas desde o ano passado. Esse dinheiro é uma das mais importantes proteções contra a especulação e contra o contágio de problemas de outros países emergentes, como os da Argentina, hoje empenhada num severo programa de ajuste com apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Boas exportações, com robustos superávits no comércio de bens, têm sustentado contas externas saudáveis. De janeiro a junho o País acumulou superávit comercial de US$ 27,48 bilhões, com exportações de US$ 113,38 bilhões e importações de US$ 85,89 bilhões, segundo os cálculos do Banco Central (BC). O superávit foi menor que o de um ano antes (US$ 34,92 bilhões) porque as importações cresceram mais que as exportações – um sinal de mercado interno ainda em expansão, apesar da perda de impulso da economia.

Para chegar ao resultado das transações correntes é preciso somar os saldos do comércio de bens, do intercâmbio de serviços (como viagens, seguros, fretes e aluguéis de equipamentos), do movimento de rendas primárias (entrada e saída de juros, lucros e dividendos) e da conta de rendas secundárias (transferências pessoais e outras). O comércio brasileiro de bens é geralmente superavitário, mas as transações com serviços e rendas normalmente ficam no vermelho.

As transações correntes tendem a ficar no vermelho, com resultados ocasionalmente positivos. Em junho o saldo ficou no azul pelo quarto mês consecutivo, com superávit de US$ 435 milhões. Mas o acumulado em 12 meses foi um déficit de US$ 13,93 bilhões, valor correspondente a 0,70% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa é uma proporção segura.

A posição do Brasil nem sempre foi tão tranquila, nos últimos anos. Em 2014, quando o País escorregava para a recessão, o déficit em transações correntes chegou a US$ 104,18 bilhões. Nesse ano, como no anterior, o investimento direto estrangeiro foi insuficiente para cobrir o buraco da conta corrente. Capitais mais especulativos garantiram a cobertura. Mas foi outro, naquela fase, o dado mais preocupante: em 2014 o déficit em transações correntes atingiu 4,24% do PIB. Não é fácil financiar um rombo dessa proporção quando cresce a desconfiança em relação ao País.

O desafio é maior em tempos de insegurança internacional, porque nesses momentos a aversão ao risco se amplia rapidamente. Quando isso ocorre, qualquer vulnerabilidade pode ser desastrosa, porque a avaliação de risco, em muitos casos distorcida pelo exagero, espanta os investidores diretos e outros financiadores. 

A segurança das contas externas é um bônus especialmente valioso num ano de muita incerteza política e de insegurança quanto ao futuro dos ajustes internos. O investimento continua fluindo para o Brasil e contribuindo para uma travessia sem danos importantes no balanço de pagamentos. Mas nada garante a manutenção dessas condições.

O risco de um governo irresponsável a partir de janeiro poderá afetar perigosamente a imagem do País perante financiadores e investidores. Além disso, contas externas saudáveis dependerão, nos próximos anos, de ganhos importantes de competitividade. Esses ganhos só ocorrerão com bons investimentos em infraestrutura e maior esforço de modernização e de ampliação da capacidade das empresas. Não haverá avanços importantes nessas áreas sem contas públicas sustentáveis e sem reformas. Sem essas condições, até a segurança externa poderá desabar.