
15 de maio de 2010 | 00h00
É essa situação inexorável que está preocupando o governo, que, ao estimular a demanda, gerou dificuldades pela insuficiência de investimentos, derivada, por sua vez, da insuficiência de poupança - tanto privada quanto pública. Agora o governo não pode acessar a poupança externa como previra, dada a perspectiva de explosão do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos. O governo está, pois, na necessidade de controlar as importações, o que faz reaparecerem as pressões inflacionárias.
Não é simples coincidência o fato de que a palavra austeridade orçamentária aparece no vocabulário governamental depois da eclosão da crise grega, que evidenciou os riscos para um país que incorre em endividamento externo excessivo.
A maior taxa de investimento que o Brasil conseguiu, desde o ano 2000, foi de 18,7% do PIB, com uma taxa de poupança de 18% do PIB. Neste ano o governo se conscientizou de que a economia brasileira não pode crescer no quadro de uma infraestrutura de país subdesenvolvido. Num recente estudo do FMI verifica-se que em 2008, entre 21 países emergentes, apenas 2 países têm dispêndios de capital inferiores aos do Brasil, de 2,6% do PIB: as Filipinas, com 2,4%, e a África do Sul, com 1,9%.
O PIB do Brasil não pode crescer a uma taxa como a da China com a pequena poupança do País - a poupança chinesa é de 40% do PIB. Com um déficit em conta corrente que não é mais coberto pela entrada de investimentos estrangeiros diretos, o Brasil não pode pensar em aumentar demais a captação de recursos externos, que por algum tempo obteve, mas pagando juros elevados.
O erro fundamental de estratégia cometido pelo governo petista foi estimular de forma artificial - com consequência negativa para as contas públicas - o consumo interno, sem se preocupar em estimular a poupança (que é uma renúncia ao consumo) e o investimento, para acompanhar um crescimento excessivamente rápido da demanda. Abriu o caminho para a inflação sem que tenha certeza de que poderá dominá-la com essa redução discutível e tardia dos gastos.
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