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O Brasil na rabeira do G-20

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Por Redação
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A economia brasileira deve ter desempenho pior que o de quase todos os países-membros do Grupo dos 20 (G-20), neste ano e no próximo, mas, apesar disso, a presidente Dilma Rousseff continua falando como se a crise do Brasil fosse parte de um cenário global de estagnação. O grupo deve crescer em média 3,3% em 2015 e 3,6% em 2016, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). O crescimento do próximo ano, se confirmado, será o maior desde 2011, mas o terrorismo acrescenta ao cenário um importante fator de incerteza, destacado em documento especial no fim da reunião de cúpula realizada em Antália, na Turquia. Nesse comunicado, os governantes do G-20 comprometem-se a intensificar a cooperação para o crescimento econômico e para a prevenção dos atos de terror. A nova pauta deve incluir controle de fronteiras, compartilhamento de informações e ataque aos canais de financiamento do terrorismo.

A matança em Paris e as novas ameaças de ataques podem ser um estímulo adicional à cooperação para o crescimento econômico e a geração de empregos, com atenção especial à criação de oportunidades para os jovens. O encontro produziu, entre outros compromissos, o de baixar em 15% nos próximos dez anos o desemprego dos jovens, o grupo mais afetado pelo corte de vagas na crise iniciada em 2008.

As ações combinadas para fortalecer o crescimento pouco têm variado nos últimos anos e em boa parte coincidem com a lista recomendada pelo FMI: os países desenvolvidos devem manter políticas monetárias brandas, para facilitar os negócios, adotar estímulos fiscais, alongando o prazo para o ajuste das contas públicas, avançar na pauta de reformas e de fortalecimento do setor financeiro e evitar novas barreiras comerciais. Também as economias emergentes e em desenvolvimento podem adotar estímulos monetários e fiscais, mas isso depende das condições de cada uma. Nem todas têm espaço para manobrar – e o Brasil é um exemplo fácil e previsível no panorama preparado pelo FMI como contribuição para os debates.

O G-20, formado inicialmente como um fórum de ministros e de presidentes de bancos centrais, incorporou chefes de governo a partir do trimestre final de 2008, por proposta do governo americano. Foi um bom instrumento de articulação econômica na pior fase da crise, mas perdeu eficácia quando as principais potências capitalistas venceram as primeiras dificuldades e iniciaram a recuperação. Em contrapartida, seu escopo aumentou, com a incorporação de temas como a sustentabilidade ambiental e os problemas ligados à migração. A reação ao terrorismo pode ser mais um fator de fortalecimento do G-20.

A presidente Dilma Rousseff propôs o apoio do Brics – Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul – a uma agenda global de fortalecimento econômico. A pauta deve incluir investimentos em infraestrutura, redução da instabilidade financeira, reforma das instituições multilaterais e diminuição da pobreza e da desigualdade. Foi só retórica: esses pontos já estão na pauta mundial. Além disso, dois sócios do Brics devem destacar-se pelos piores desempenhos econômicos.

As projeções do FMI apontam contração de 3% neste ano e de 1% no próximo para o Brasil. A economia russa deve encolher 3,8% em 2015 e 0,6% em 2016, mas o país enfrenta os custos da crise com a Ucrânia, os efeitos da depreciação do petróleo e as consequências de embargos da União Europeia e dos Estados Unidos.

A presidente absteve-se de mencionar o rombo fiscal brasileiro, um dos maiores do mundo, a inflação batendo em 10% ao ano e o desemprego próximo de 9%. Mas teve de defender, em entrevista, a manutenção do ministro da Fazenda, contra a opinião de seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva. Fez essa defesa quase pedindo desculpas e reafirmando sua concordância com o guru “na maioria dos temas”. No documento-base preparado pelo FMI há uma referência às “difíceis condições políticas” do Brasil. Nenhum outro país é citado dessa forma.

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