08 de dezembro de 2015 | 02h55
Políticas frouxas foram mantidas pelas autoridades monetárias do mundo rico por um período excessivamente longo, segundo economistas do BIS, abrindo espaço para novas bolhas especulativas e novos desajustes nos mercados.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a rever sua estratégia há mais de um ano e em breve, talvez no meio de dezembro, anuncie a primeira alta de juros em muitos anos.
O BCE, ao contrário, acaba de anunciar um maior afrouxamento da política e a decisão de prolongar por seis meses seu plano de compra mensal de títulos no valor de até ¤ 60 bilhões. Os sinais de reativação econômica apareceram muito mais cedo nos Estados Unidos do que na Europa. Só neste ano a economia americana criou em média 218 mil empregos mensais – um forte sinal para a mudança da política monetária, embora a inflação continue muito baixa. Na Europa, a recuperação econômica tem sido mais lenta, a inflação continua muito próxima de zero e o setor empresarial cobra do BCE uma política ainda mais expansionista do que a adotada pela instituição.
Depois de assustar os mercados em agosto e setembro, a economia chinesa parece mais firme e o temor em relação aos emergentes diminuiu, mas a melhora do cenário pode ser passageira, segundo a análise divulgada pelo BIS.
A dívida em dólar praticamente duplicou desde 2009, no início da crise, e continua acima de US$ 3 trilhões.
O relatório chama a atenção para a dívida de bancos e de empresas dos emergentes, provavelmente subestimada por causa do uso de filiais estrangeiras para emissão de títulos de endividamento. Segundo o documento, “firmas chinesas, indianas, brasileiras, russas e sul-africanas usam subsidiárias no exterior para emitir bônus em dólar” e por isso a sua vulnerabilidade a uma alta dos juros e da moeda americana pode ser subestimada.
Economistas do FMI já haviam destacado o endividamento externo de empresas brasileiras. O novo relatório do BIS mostra, como exemplo do uso de filiais no exterior, a emissão de bônus da Petrobrás por intermédio de uma subsidiária nas Ilhas Cayman, a Petrobras International Finance Company. No fim do segundo trimestre, empresas brasileiras tinham dívidas de US$ 97 bilhões, sem contar os títulos emitidos por suas filiais. Quando se inclui o valor desses papéis, o total chega a US$ 200 bilhões. No caso da China, o estoque de bônus em moeda americana, no fim do segundo trimestre, é multiplicado por 13 e passa de US$ 18 bilhões para US$ 243 bilhões quando o endividamento das subsidiárias entra na soma.
Mas o Brasil é vulnerável a um aperto das condições internacionais também por outros fatores. A dívida externa de bancos e de companhias pode ser uma fonte de problemas sérios, mas a fragilidade das contas públicas e a inflação elevada adicionam uma extraordinária complicação ao cenário. Se mais uma agência rebaixar o crédito do Brasil ao grau especulativo, seguindo o caminho da Standard & Poor’s, as condições de financiamento poderão ficar muito mais difíceis para o governo e para as empresas. A crise política e os impasses do ajuste fiscal aumentam a vulnerabilidade. Quem olha para isso em Brasília?
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