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O Brasil vulnerável

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Por Redação
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Embora estejam mais fortes depois de cerca de dez anos de crescimento robusto, as economias dos países emergentes continuam vulneráveis a crises, sobretudo por causa da alta excessiva do preço de ativos, especialmente imobiliários, e do aumento muito rápido do volume de créditos. A advertência está contida no relatório anual que o Banco de Compensações Internacionais (BIS) – conhecido como “o banco central dos bancos centrais” – divulgou há dias e deve ser examinada com atenção pelas autoridades econômicas brasileiras.

Fatores que beneficiaram o crescimento recente, como o aumento dos preços das commodities e do fluxo de investimentos estrangeiros para esses países, não são permanentes, diz o BIS, citando esses dois itens que contribuíram de maneira muito eficaz para o crescimento da economia brasileira, mas cujo vigor tende a se reduzir daqui para a frente. Nesse quadro, por causa de fragilidades que acumulou em tempos recentes, o Brasil coloca-se entre os países menos preparados para resistir aos efeitos negativos das mudanças já em curso no cenário mundial.

Na média dos últimos três anos, o Brasil foi, entre 24 países desenvolvidos e emergentes que tiveram suas contas públicas analisadas pelo BIS, o que apresentou a pior evolução na política fiscal. Com base em estimativas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o BIS estima que o déficit público brasileiro neste ano alcançará 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), um aumento de 1,3 ponto porcentual sobre o resultado negativo do ano passado, de 4% do PIB.

É muito provável, porém, que a estimativa do BIS esteja subavaliada, pois o déficit público nominal brasileiro acumulado em 12 meses até maio alcançou o equivalente a 7,90% do PIB, de acordo com o Banco Central. O BIS observa que a deterioração das finanças públicas reduz a capacidade do governo de reagir a choques econômicos. No caso de outra fragilidade dos emergentes apontada pelo relatório, o da valorização excessiva dos imóveis nos últimos anos, o Brasil parece em situação menos ruim do que a de outros países em estágio de desenvolvimento. Os preços desses imóveis “caíram no México e a taxa de crescimento teve enfraquecimento substancial no Brasil, um sinal de que o boom financeiro está maturando”, ou seja, o processo de alta parece ter perdido força.

De fato, segundo o BIS, depois da alta anual média de mais de 15% entre 2007 e 2011 em todo o mundo – e o Brasil liderou essa valorização –, a elevação, no mercado brasileiro, se contraiu para 6% em 2012, 2,9% em 2013 e 1,4% no ano passado.

A tendência pode ter-se acentuado neste ano. A crise decorrente dos desmandos na Petrobrás investigados pela Operação Lava Jato e da incapacidade do governo de dar respostas aos problemas que se acumularam no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff já corrói a renda média dos brasileiros e afeta o setor de construção, reduzindo investimentos e fechando postos de trabalho.

Aos problemas internos – criados pela má gestão do governo do PT, que, no entanto, insistia até há pouco em atribuí-los a fatores externos – somam-se os riscos reais apontados pelo BIS. Agora, sim, há problemas externos rondando a economia brasileira.

O aumento dos juros nos Estados Unidos “pode gerar rapidamente juros mais altos nas economias emergentes e condições financeiras mais apertadas”, adverte o BIS. No caso brasileiro, o consumidor e o empresariado já sentem os efeitos do aperto monetário provocado pelas dificuldades internas. Se outras economias emergentes forem levadas a tomar medidas semelhantes em decorrência do aumento dos juros nos Estados Unidos e em outros países, o impacto sobre a economia mundial poderá ser maior do que em outras épocas, dado o peso que os países em desenvolvimento alcançaram. E, desta vez, os emergentes não podem contar com a valorização das commodities. As oscilações das cotações são mais amplas – e podem ser rápidas, e para baixo, como ocorreu com o petróleo.