06 de junho de 2012 | 06h39
Qualquer previsão, feita a quatro meses do pleito, é arriscado exercício de futurologia. Mas a candidatura Haddad tem tudo para se revelar um retumbante fracasso, pelo simples fato - admitido por lideranças municipais do partido - de que a militância petista, habituada às "discussões de base", tem grande dificuldade para aceitar o fato de que foi marginalizada no processo em curso. Inclusive porque a intervenção autoritária de Lula foi feita em prejuízo da forte liderança de Marta na periferia da cidade, onde o PT tem seus redutos mais importantes. Diante do argumento de que, se conseguiu persuadir o partido a aceitar Dilma, Lula também logrará viabilizar Haddad, lideranças petistas inconformadas com a situação ponderam que o ex-presidente teve o tempo a seu favor, três anos para "trabalhar", diuturnamente, dentro e fora do partido, a imagem daquela que viria a ser sua sucessora. Agora, corre-se contra o relógio.
Nessas circunstâncias, Marta Suplicy, como é de esperar de seu temperamento voluntarioso, dificilmente se disporá a prestar ao chefão a vassalagem que Haddad não se constrangeu de praticar quando, criticando-a veladamente pela ausência no evento partidário, afirmou que "quem não compareceu" perdeu a oportunidade de "estar com a militância do PT e, sobretudo, com o presidente Lula". Fica fácil de entender por que a ex-prefeita preferiu não dar o ar de sua graça.
Da mesma forma perdeu uma oportunidade para ficar calado Edinho Silva, que em entrevista ao Estado (4/6), chamou Marta de "mulher inteligentíssima, extremamente capaz"; garantiu que o PT nunca abrirá mão "da participação (dela) por tudo o que ela representa"; classificou-a como "uma liderança de primeira grandeza" e "a melhor prefeita da cidade de São Paulo". Só não explicou por que, diante de tantas e tão exuberantes qualificações, o PT preferiu optar pelo "novo", representado por uma figura sem a menor expressão eleitoral e tradição de liderança partidária, cuja passagem pelo Ministério da Educação foi pontilhada por polêmicas e lambanças.
É possível que daqui a quatro meses a cúpula petista tenha que se dedicar ao doloroso exercício de descobrir - ou admitir - onde errou no pleito paulistano. Mas, para Edinho Silva, no momento está claro que quem erra é Marta: "Poucas vezes na minha vida dentro do PT vi uma liderança política cometer erros tão graves do ponto de vista da formulação política". E explorou o discurso do faça-o-que-digo-não-o-que-faço: "O PT representa um projeto coletivo. (...) Esse projeto é construído desde as nossas lideranças de maior grandeza até os militantes de base, que estão lá no diretório zonal defendendo a bandeira do PT. Evidente que a Marta faz muita falta nesse processo. (...) Se ela entrar, a candidatura do Haddad ganha outra musculatura. Mas se ela infelizmente não entrar, por mais que fiquemos sentidos, vamos buscar a superação disso na força do projeto coletivo". Estranho esse projeto coletivo, que se resume à vontade intransigente de um homem.
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