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O combate às enchentes

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Por Redação
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Há nove meses, no auge das chuvas de verão na capital, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab anunciaram um plano de R$ 800 milhões para o combate às enchentes. Entre as obras prometidas estavam a instalação de três turbinas para aumentar em 60% a capacidade de bombeamento do Rio Pinheiros para a Represa Billings, a canalização de córregos e a construção de dois piscinões, sendo um na divisa de São Paulo e São Caetano. Também faziam parte dos planos a construção de um sistema de canais entre São Paulo e Guarulhos para desassoreamento do Rio Tietê, a criação do Parque Várzeas do Tietê, com a remoção de 5 mil famílias que vivem nas margens do rio, e a retirada de 4,18 milhões de metros cúbicos de resíduos da calha do rio. Até agora, porém, o governo do Estado gastou apenas R$ 155 milhões dos R$ 658 milhões destinados à prevenção das inundações e a Prefeitura desembolsou só R$ 57,1 milhões - 8,3% do previsto. É evidente que um pacote de obras como esse não pode ser executado em tão pouco tempo, mas, ao utilizar menos de 10% do previsto para investimentos no ano em obras antienchentes, os governos municipal e estadual negam aos paulistanos qualquer esperança de alívio, a curto prazo, dos transtornos causados pelas inundações cada vez mais frequentes e devastadoras. Nos últimos dias, chuvas moderadas já foram suficientes para provocar alagamentos em vários pontos da cidade, que passou o fim de semana em estado de atenção.A cada verão, para acalmar a população chocada pelas tragédias dos deslizamentos e pelas grandes perdas causadas pelas enchentes, autoridades se unem e anunciam grandes planos e investimentos recordes para a solução do problema. Ao fim do verão, constata-se que muito pouco foi feito, que a mancha urbana continua se expandindo, que as áreas de impermeabilização se tornam cada vez maiores e que até mesmo as operações mais simples, como limpeza de bocas de lobo, não recebem recursos suficientes. Em entrevista ao Estado, o secretário de Estado de Saneamento e Recursos Hídricos, Edson Giriboni, afirmou que, "no primeiro ano de governo, é normal ter mais planejamento que execução". Segundo ele, no ano que vem haverá um grande canteiro de obras na cidade. Mas a verdade é que até o planejamento está atrasado, pois nem o cronograma da revisão do Plano de Macrodrenagem da Região Metropolitana, prometida para este ano, foi cumprido.A necessidade de construção de mais piscinões na região metropolitana é ponto pacífico há décadas. Nesse caso, portanto, o planejamento já não deveria mais ser o motivo de atraso das obras. Numa área urbana tão ampla, em que todo o escoamento flui para um único canal, o Rio Tietê, é preciso aumentar o volume de água retido nos reservatórios. Para tanto, além de construir novos piscinões, é preciso ampliar as áreas permeáveis, com pavimentos apropriados e jardins. As prefeituras da região metropolitana de São Paulo e o governo estadual deveriam coordenar suas ações de manutenção de bocas de lobo e galerias, controle de ocupação de várzeas e instalação de sistemas de alerta para segurança da população. Assim se evitaria a duplicação de esforços e a perda de recursos preciosos. O problema das enchentes deve estar sempre na agenda das autoridades, independentemente da estação. Durante todo o ano, prefeituras da região metropolitana e o governo estadual deveriam, por exemplo, manter um trabalho de conscientização da população sobre o destino a ser dado ao lixo, que, descartado irregularmente, também favorece as enchentes. No início do século 20, São Paulo tinha apenas 200 mil habitantes. Hoje, ela integra uma região metropolitana com mais de 18 milhões de habitantes, dos quais 2,7 milhões vivem em favelas, cortiços e habitações precárias em áreas de risco.A ocupação desordenada da Bacia do Alto Tietê requer ações rápidas, radicais e contínuas para que a população possa ter um mínimo de segurança nas temporadas de chuvas.