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O consumo como sinalizador

Cenário econômico mostra recuperação lenta e com longo percurso até a normalização

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Por Redação
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Melhorando, mas ainda longe de recompor as perdas: este padrão resume boa parte das avaliações coletadas na última pesquisa das condições de consumo das famílias, um trabalho renovado mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Com detalhes sobre confiança no emprego, perspectiva profissional, renda atual, nível de consumo e intenções de compras, o relatório contém elementos importantes para uma interpretação ampla do cenário econômico – de recuperação lenta, aparentemente firme, mas com um longo percurso à frente, até a normalização.

Zonas de luz e sombra compõem o quadro, uma combinação complexa de informações e percepções positivas e negativas. O nível de consumo atual, avaliado em outubro, continua inferior ao do ano passado para 59,3% das famílias, mas a recuperação continua. O aumento da confiança aparece nos dados sobre intenção de consumo. O indicador subiu 1,4% em um mês e 5,4% em um ano, atingindo o nível de 77,9 pontos. Apesar da melhora, continua longe da zona de indiferença, correspondente a 100 pontos, e ainda denota insatisfação com as condições atuais.

O entusiasmo em relação às compras varia na razão direta dos ganhos familiares. As famílias com renda mensal até 10 salários mínimos estão abaixo da média, com o índice de intenção de consumo de 75,5 pontos. Aquelas com renda acima de 10 salários mínimos demonstram maior disposição de gastar, com 90 pontos. Outras pesquisas têm mostrado sinais de aumento de consumo, ainda muito moderado, nos grupos de ganhos mais baixos. É visível, em todos os casos, o efeito benigno da forte desinflação iniciada no ano passado. Com menor alta de preços, especialmente dos alimentos, tem sobrado algum dinheiro a mais para diversificação das despesas.

De modo geral, as condições de renda têm melhorado. A posição atual é melhor que a do ano passado ou igual para 63,5% das famílias consultadas. As primeiras são 27,3% do conjunto, as segundas, 36,2%. Renda pior foi apontada por 36% e 0,5% se declarou incapaz de responder. O item emprego atual, com indicador de 107,4 pontos, já está na zona do otimismo, com aumento de 0,9% em outubro e de 1,7% em relação a um ano antes.

Apesar desses dados positivos, a disposição de compra de bens duráveis continua muito limitada. O indicador subiu 2,3% em um mês e 16,7% em um ano, mas atingiu apenas 53,8 pontos em outubro. Esse item provavelmente se relaciona com as condições de acesso ao crédito, avaliadas como mais difíceis que as do ano passado por 50,5% das famílias e como mais fáceis por apenas 22,2%. Também nesse caso, no entanto, as opiniões têm ficado menos sombrias e o índice, com melhoras no mês e no ano, chegou a 71,7 pontos.

Melhores condições de financiamento para os consumidores dependerão tanto de novos cortes da taxa básica de juros pelo Banco Central (BC) quanto de um abrandamento de critérios dos bancos. Consumidores têm conseguido mais empréstimos, segundo as informações oficiais, mas os padrões de concessão continuam muito estritos. De toda forma, a inadimplência tem diminuído e famílias em dificuldades têm conseguido renegociar e reescalonar seus débitos, ajudadas em parte pela melhora da renda. Com isso, muitas têm recuperado condições de obtenção de crédito.

Se a inflação permanecer em níveis toleráveis, os juros ainda caírem e a oferta de emprego continuar em alta, o consumo deverá recuperar-se mais sensivelmente nos próximos meses e, com certeza, no próximo ano – se nenhuma grande trapalhada ocorrer na área política. Se tudo evoluir de forma razoável, o aumento do consumo reforçará a recuperação da atividade industrial.

O desemprego permanece elevado, mas a criação de postos com carteira assinada vem-se acumulando. As contratações temporárias devem ser mais numerosas neste fim de ano que nos meses finais de 2016 – mais um sinal de reativação. Essa reativação tem ocorrido sem medidas populistas. Manter esse padrão em 2018 será mais um desafio.